O acontecimento de Deus nos acontecimentos dos homens. A atmosfera é sempre alimentada por uma surpreendente Theosfera.

Domingo, 14 de Julho de 2019

A. O mundo só muda com aqueles que fazem



  1. O mundo avança com aqueles que sabem, mas só muda com aqueles que fazem. O saber é fundamental, mas não basta. Determinante é o saber que não se limita a saber. O saber que importa, o saber que verdadeiramente conta é o saber que age, é o saber que intervém, é o saber que muda.

Acção sem conhecimento é perigosa, conhecimento sem acção é inútil. Deste modo, é imperioso saber o que se faz e é urgente fazer o que se sabe.



  1. Neste Domingo, encontramos alguém — um doutor da Lei — que coloca a Jesus a questão do «fazer». Ele não pergunta pelo que deve «saber», mas pelo que deve «fazer»: «Mestre, que hei-de fazer para ter a vida eterna como herança?» (Lc 10, 25).

É que saber, já aquele homem sabia. Quando Jesus lhe pergunta pelo que está escrito na Lei, ele tem uma resposta pronta: «Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças e com toda a tua mente, e ao teu próximo como a ti mesmo» (Lc 10, 27).


B. Jesus manda fazer



  1. Jesus diz que a resposta está certa. Ou seja, aquele homem sabia. Que lhe faltava então? Faltava-lhe fazer, faltava-lhe fazer o que sabia. Esta, aliás, é uma situação que se mantém. Continua a haver uma persistente fricção entre o saber e o fazer. Quem não sabe o que Deus quer?

O que Deus quer é o amor, é que amemos. Se Deus é amor (cf. 1Jo 4, 8.16), como é que poderia ser de outra maneira? O problema é que a experiência mostra que a nossa vida decorre — quase sempre — de outra maneira, isto é, longe do amor.



  1. Muitas são as vezes em que tiramos Deus do amor e tiramos o amor de Deus. Era bom que tivéssemos presente que não é possível viver Deus sem amor e é inteiramente impossível viver o amor sem Deus. Sem amor não há Deus e sem Deus não há amor. Mas não é Deus que tem de ser visto a partir do nosso amor; o nosso amor é que tem de ser visto — e vivido — a partir de Deus.

O amor humano não é a medida do amor divino, o amor divino é que há-de ser a medida do amor humano. É o amor divino que cria o amor humano. É, pois, o amor de Deus que há-de melhorar o amor pelo ser humano. Quanto mais amarmos em Deus, tanto melhor amaremos os nossos irmãos.


C. É preciso amar a Deus para amar o próximo



  1. A falta de amor é a grande doença da humanidade. O amor é uma palavra que muito se ouve, mas uma realidade que pouco se vê. Há muito amor nos lábios, mas há (muito) pouco amor na vida. Como entender que haja tanta gente a passar do amor para o ódio ou para a indiferença?

É preciso ter presente, antes de mais, que o amor não é só para sentir. O amor não é só — nem principalmente — sentimento. O amor é uma vivência englobante: envolve o sentimento e também o entendimento e a vontade. Ou seja, o amor é invasivo: invade a vida toda.



  1. Só deixa de amar quem deixa Deus, que é amor. Se queremos amar as pessoas, comecemos por amar Deus, comecemos por deixar que Deus nos ame.

Ao contrário do que parece, quando pomos as pessoas no centro, não estamos a ajudar as pessoas. Só ajudamos verdadeiramente as pessoas quando pomos Deus no centro. Não esqueçamos que a máxima que diz que «o homem é a medida de todas as coisas» é uma máxima pré-cristã e não-cristã. O centro de tudo está em Deus e é a partir de Deus que tudo faz sentido.


D. Uma parábola muito conhecida, mas não muito vivida



  1. Não espanta, por conseguinte, que Jesus tenha dito ao homem que o abordou para «fazer assim» (Lc 10, 28). O que Jesus diz — a ele e a cada um de nós — é que a prioridade é amar: amar a Deus e amar o próximo a partir de Deus. E dá um exemplo, luminoso e muito interpelante.

A parábola do bom samaritano é sobejamente conhecida, mas não suficientemente vivida. O que esta parábola nos mostra é que o amor não é facultativo nem pode ser selectivo. O amor é imperativo e tem de ser universal. O amor nunca é excludente nem limitado. O amor é para todos e para sempre.



  1. Esta parábola mostra que nem sempre quem está perto está próximo. Os primeiros a passar por este homem que tinha sido assaltado eram peritos no amor a Deus. O sacerdote e o levita tinham Deus nos lábios, mas mostraram que não tinham Deus na vida. Reconheciam a presença de Deus no templo, mas não eram capazes de reconhecer a presença de Deus no tempo. Eles ilustram a atitude daqueles que só dão pela presença de Deus quando sobem as escadas que dão da rua para a igreja, mas esquecem-se de Deus quando descem as escadas que dão da igreja para a rua.

É preciso lembrar que Deus também está lá fora. É fundamental recordar que Deus também está na rua. Como é possível que aqueles que lembram Deus cá dentro se esqueçam de Deus lá fora? O amor a Deus não pode ser eventual. O amor a Deus tem de ser total. O amor a Deus tem de ser instante, tem de ser constante.


E. É preciso «samaritanizar»



  1. Deus está à nossa espera no irmão sofredor, no velhinho esquecido, abandonado em sua casa. Nesta época do ano, há quem leve a passear os animais que têm em casa. Não há mal nenhum nisso. Mas é raro ver alguém a passear com os mais idosos. E há muitos idosos que ainda estão em condições de sair e que até gostariam de desfrutar de um refrescante passeio de fim de tarde.

Enfim, precisamos de ser mais samaritanos. Precisamos de «samaritanizar» mais a nossa vida. Há muita frieza, mesmo nestes dias de calor. Precisamos de ser mais calorosos, mais atenciosos, mais dadivosos.



  1. Jesus põe o samaritano como exemplo. É também a cada um de nós que Jesus nos diz para fazer como ele: «Vai e faz o mesmo, tu também» (Lc 10, 37). Façamos, então, como o samaritano. Não olhemos para o outro como adversário nem como inimigo. Olhemos para o outro apenas — e sempre — como irmão. A fraternidade implica a proximidade. Não cavemos mais distâncias. Construamos pontes em vez de muros.

No fundo, Jesus é o grande samaritano. Como recorda São Paulo, Ele é a imagem de Deus (cf. Col 1, 15). Assim sendo, nós somos imagens da imagem que é Jesus. É Jesus que nos manda olhar para o samaritano. Ser samaritano é olhar fraternalmente para cada ser humano. «Samaritanizemo-nos», pois. E olhemos para as pessoas com os olhos de Jesus!

publicado por Theosfera às 04:37

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