O acontecimento de Deus nos acontecimentos dos homens. A atmosfera é sempre alimentada por uma surpreendente Theosfera.

Terça-feira, 10 de Novembro de 2015

 

  1. Há coisas que, quanto mais as damos, mais as temos. Indo mais longe, dir-se-ia que há coisas que só as temos na medida em que as damos.

De facto, há coisas que se não dermos, nunca as teremos.

 

  1. É o caso da misericórdia. Só tem misericórdia quem oferece misericórdia.

Aliás, como pode ter misericórdia quem não oferece misericórdia? Como pode alegar que a tem quem não a usa?

 

  1. É certo que a misericórdia está muito presente nos lábios. Mas também é verdade — uma penosa verdade — que a misericórdia está bastante ausente da vida.

E, às vezes, quem mais a faz vir aos lábios, menos a faz ver na (sua) vida.

 

  1. A bem dizer, a história da humanidade oscila permanentemente entre esta carência e esta urgência.

A história parece estar sempre a degolar a misericórdia. Onde encontrar, na história, os triunfos da misericórdia?

 

  1. A misericórdia parece estar sempre a ser encolhida — e engolida — pela severidade.

São, de facto, muito «tortos» — e tremendamente tortuosos — os caminhos daqueles que dizem cortar sempre «a direito».

 

  1. Um dos pecados originais da nossa vida foi a separação destas duas irmãs siamesas: a misericórdia e a justiça.

Dessa separação resultou uma entorse para cada uma. Sem misericórdia, a justiça altera-se. Sem justiça, a misericórdia adultera-se.

 

  1. Longe da companhia da misericórdia, a justiça tende a transformar-se em vingança.

Fora do manto da justiça, a misericórdia corre o risco de degenerar em indiferença.

 

  1. É, pois, nosso dever reagrupar o que propendemos a separar.

Chegou a hora de perceber que a justiça tem de ser misericordiosa e que a misericórdia tem de ser justa.

 

  1. Definitivamente, a misericórdia é o lar da justiça e a justiça é o lugar da misericórdia. Quando uma falta, as duas falham.

Todos sofremos quando a justiça se afasta da misericórdia e quando a misericórdia não se aproxima da justiça.

 

  1. A justiça não pode ser vista como condenação dos que pecam. E a misericórdia não pode ser entendida como branqueamento do pecado.

A justiça é misericordiosa quando dá mais uma oportunidade ao pecador. E a misericórdia é justa quando não se resigna ao pecado. E quando não trata o «enfermo» como se já estivesse «são». A misericórdia é paciente, persistente e sempre verdadeira!

publicado por Theosfera às 10:32

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