1. Um olhar independente nota que a esquerda e a direita estão cada vez menos diferentes.
Estão, consequentemente, cada vez mais parecidas.
2. É inevitável que assim seja, dado o eclipse das ideologias que as enformou.
Outrora, esquerda e direita distinguiam-se não só na organização do Estado, mas também na concepção da vida e da sociedade.
3. Hoje em dia, há uma distinção quanto à economia.
Só que também esta acaba por se diluir na prática pois é de fora que vêm as regras.
4. Com algumas «nuances», não há grandes diferenças entre uma governação à esquerda ou à direita.
E até nos temas ditos fracturantes, a tendência é para uma maior proximidade.
5. A votação da passada sexta-feira é elucidativa.
Os temas propostos pela esquerda foram aprovados também com os votos de vários deputados da direita.
6. O que espanta é que, sendo a esquerda e a direita cada vez mais parecidas, se entendam cada vez menos.
Dá até a impressão de que se entendiam melhor quando as diferenças eram maiores.
7. Mas isso também tem uma explicação.
Habitualmente, o entendimento dá-se entre diferentes.
8. Quando as convicções são fortes, a percepção das prioridades também é mais vincada.
A distinção não obstruía a cooperação. O interesse nacional era capaz de atrair todos os pólos.
9. Quando as diferenças se esbatem, o que sobra?
Sobra, acima de tudo, a vontade de poder.
10. Ora, a vontade de poder tende a afastar toda e qualquer possibilidade de cooperação.
Os partidos assemelham-se, cada vez mais, a irmãos gémeos. Mas desavindos!