- Tudo continuava escuro. Escuro estava o tempo. Escura estava a alma.
Escura parecia estar a vida para sempre. Afinal, tudo estava consumado (cf. Jo 19, 30).
- A pedra no sepulcro era como o ponto final num texto.
Aquela pedra era o ponto final naquela vida: naquela vida que se tinha consumido e que a morte tinha consumado.
- Restava apenas o rasto. Mas até o rasto daquele corpo tinha desaparecido: «Tiraram o Senhor do túmulo»(Jo 20, 2).
A morte é, de facto, o supremo desencontro. Como reencontrar aqueles de quem a morte desencontrou? Que pode haver depois do fim?
- Só que aquela morte não era o fim. A partir daquela morte, a morte deixou de ser o fim.
É que, naquela noite, um novo dia amanhecera. E, naquela escuridão, uma nova luz se acendera.
- As trevas nada podiam contra aquela luz. E até a morte nada pôde contra aquela vida.
Tal como a pedra do sepulcro, também as evidências são derrubadas. O que estava morto, afinal, está vivo.
- Jesus ressuscitou, não revivesceu. A Ressurreição é novidade, não é regresso. É uma passagem para a frente, não é um passo atrás.
Ressurreição não é ressuscitação. Jesus não é devolvido à vida anterior, mas entra numa vida nova. Daí que ninguém O reconheça ao primeiro contacto (cf. Jo 20, 14). Jesus é o mesmo, mas está diferente.
- A Ressurreição é sobretudo transformação.
Neste sentido, compreende-se que não falte quem à Ressurreição chame «anástase» para significar precisamente a elevação de Jesus à vida plena.
- É por isso que nós não evocamos alguém que já morreu; nós celebramos alguém que continua vivo.
A Igreja, alicerçada na Páscoa, não transporta a recordação de um ausente, mas oferece-nos a permanente celebração de uma presença.
- É do lugar da morte que Jesus vem ao encontro dos vivos (cf. Jo 20, 15).
Nós não tínhamos percebido que consumado não é o mesmo que terminado. Jesus tinha consumado a missão, mas não deu por terminada a presença.
- Por conseguinte, a Páscoa é o silêncio que fala, a escuridão que brilha, a lágrima que sorri, o fim que (re)começa
Do máximo fracasso irrompe o maior triunfo. O vencido desperta como vencedor. E, uma vez mais, o inesperado vence o inevitável.