Na vida, nem tudo o que ouvimos é voz. Tudo o que ouvimos são, antes de mais, ecos.
São ecos de muitas vozes, são ecos de muitos silêncios. São até ecos de muitas vozes que estão em silêncio, de muitas vozes silenciosas, de muitas vozes silenciadas.
Há quem pense que o ser humano é o eco permanente do permanente silêncio de Deus.
Foi o insuspeito José Saramago quem se apercebeu de tudo isto: «Deus é o silêncio do universo e o ser humano o grito que dá sentido a esse silêncio».
Para muitos, é o grito do homem que dá sentido ao silêncio de Deus. Mas para muitos outros, é o silêncio de Deus que dá sentido ao grito do homem.
É claro que não falta quem se limite a ouvir o grito. Mas também não escasseia quem capte o sentido do grito.
São tantos os que escutam e saboreiam a escuta do silêncio de Deus. E é nessa altura que não poucos concluem que não é Deus que está em silêncio em relação a nós; nós é que, quase sempre, estamos surdos em relação à voz de Deus.