- Em princípio, um crente vê Deus como critério para a sua concepção do mundo.
Mas não faltam crentes que colocam o mundo como critério para a sua concepção de Deus. Resultado? Em vez de adequar o mundo a Deus, adequam Deus ao mundo.
- É indispensável que conheçamos o mundo ao qual anunciamos o Evangelho. Mas será que procuramos conhecer devidamente o Evangelho que anunciamos ao mundo?
Às vezes, somos muito «mundanos» diante do Evangelho e pouco «evangelizadores» perante o mundo.
- É, sem dúvida, meritório que nos preocupemos com a dimensão temporal da fé.
Mas não será igualmente necessário que façamos sobressair a dimensão espiritual do mundo?
- A presença no mundo faz parte da fé. Mas temos de perceber que a vivência da fé também faz parte do mundo.
A necessidade de trazer a eternidade para o tempo não pode ofuscar o imperativo de abrir o tempo à eternidade.
- Há quem note alguma falta de mundo no nosso discurso sobre Deus.
Mas não será que Deus faz muito mais falta ao nosso percurso no mundo?
- Para Emmanuel Mounier, tão grave é construir a eternidade à margem do tempo como investir no tempo à margem da eternidade.
Se o risco de realçar a eternidade à custa do tempo é grande, o perigo de valorizar o tempo à custa da eternidade não é menor.
- Já Romano Guardini lastimava os crentes que não se fixam na eternidade, mas apenas no tempo.
Acrescentava que esta situação ficava a dever-se ao facto de o centro da vida estar a deslocar-se da verdade para a vontade.
- Em vez de ser a verdade a impor-se à vontade, é a vontade que se impõe cada vez mais à verdade.
No limite, a fé não é acolhida segundo a proposta da comunidade, mas apenas segundo os desejos de cada um.
- A «fé transmitida» vai cedendo o lugar à mera «fé sentida» através de sucessivos impulsos emocionais.
É preciso ter presente que, na fé, não existe «autarquia». Ninguém tem fé por si nem para si.
- Como avisa Guardini, não é a vontade que cria a verdade. A missão da vontade é encontrar a verdade e dar testemunho dela pelo amor.
Que a verdade ilumine sempre a vontade. E que nunca a vontade obscureça a verdade!