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Domingo, 23 de Dezembro de 2018

A. Maria está com pressa

  1. Já houve um tempo em que os dias de Natal eram dias sossegados. Agora, até no Natal andamos todos apressados. Curiosamente, neste Domingo perto do Natal, notamos que Maria também está apressada. Maria está com pressa (cf. Lc 1, 30) porque quer ajudar Isabel. E, acima de tudo, porque sabe que a melhor ajuda é levar Jesus a Isabel.

No fundo, é isto o que falta perceber hoje. Ainda somos capazes de perceber que é preciso ajudar os outros. Falta-nos, porém, compreender que a melhor ajuda é levar Cristo aos outros. Os caminhos de Maria até à casa de Isabel são os caminhos de Maria até à vida de cada um de nós. Também hoje Maria está com pressa. Também hoje, Maria tem pressa de chegar até nós para nos oferecer Cristo, para nos dar o Seu Cristo.

 

  1. Podemos dizer que, naqueles caminhos até à casa de Isabel, ocorreu a primeira procissão do Corpo de Deus. É que, nessa altura, o Corpo de Deus já habitava no Corpo de Maria. Ela já era o verdadeiro «Cálice do Verbo» (Hans Urs von Balthasar) e o primeiro Sacrário da História. É por isso que estes quilómetros não são uma viagem qualquer. A Virgem da Anunciação sai em procissão e já transporta Jesus em peregrinação.

Há dois mil anos, «Maria pôs-Se a caminho» (Lc 1, 30). Hoje, Maria não cessa de Se pôr a caminho. Maria vem ao nosso encontro em cada caminho. Os nossos caminhos continuam a ser percorridos por Maria e pelo Filho de Maria.

 

B. A Visitação é modelo de Missão

 

3.  Maria quem nos leva pela mão até à mesa da comunhão. É Maria quem nos abeira desta refeição inteira. É Maria quem, verdadeiramente, nos conduz até ao Corpo de Jesus. E é Maria quem primeiro diz «ámen» (cf. Lc 1, 38), esperando que o nosso «ámen» seja — como o d’Ela — um «sim» também.

É por isso que a Nossa Senhora deste dia está sempre na nossa companhia. A Nossa Senhora desta viagem está sempre a depositar em nós alento e coragem. Junto de Isabel, Maria é exaltada como crente fiel. Nossa Senhora da Visitação é, por conseguinte, o nosso modelo de missão. Desde o princípio da nossa jornada, podemos contar com Maria em cada estrada.

 

  1. Grande — enorme — é a sabedoria que nos vem de Maria. É cada vez mais urgente perceber que a missão é, essencialmente, um acto de visitação. Como Maria, o pastor tem de ser, antes de mais, um visitador. Não hesitemos, pois, em pormo-nos a caminho ao encontro de quem está sozinho.

Neste mundo global, ainda há quem viva em abandono total. Neste tempo de encontros, ainda há muitos desencontros. E nesta época de encantos, continua a haver quem se veja mergulhado em prantos. Há muita gente a viver só, gente de quem ninguém parece ter dó. Há muita gente abandonada, mesmo que pareça estar acompanhada. Há gente acoitada em dor imensa, à espera do dom de uma presença.

 

C. Evangelizar é fazer como Maria: mostrar Jesus em cada dia

 

5. É preciso fazer como Maria. É preciso sair e sair com pressa. Há muita gente à espera. Há muita gente que quase desespera. Há muita gente sem esperança e que em ninguém tem confiança.

É urgente ser irmão de quem se vai afogando na solidão. Mas quando sairmos pelos caminhos, não partamos sozinhos. Façamos sempre como Maria e levemos Jesus na nossa companhia. Afinal, foi Jesus, levado por Maria, que fez a diferença naquele dia. Não foi só Maria que visitou Isabel. Foi Jesus que inundou aquela vida com a Sua luz. E até João saltou quando Jesus naquela casa entrou (cf. Lc 1, 44). A Sua presença desencadeou uma alegria imensa.

 

  1. Nossa Senhora da Visitação é o nosso modelo na missão. Evangelizar é, acima de tudo, visitar. E é levar Jesus a quem necessita de uma luz. O importante não é que as nossas palavras ecoem; o importante é que a Palavra de Deus entoe.

Na Sua visita, Maria é proclamada bendita (cf. Lc 1, 45). E é proclamada bendita porque acredita. Na verdade, antes de visitar Isabel, Maria visitou o Deus de Israel. E foi o Deus de Israel que Lhe falou de Isabel (cf. Lc 1, 36).

 

D. Maria é bendita porque acredita

 

7. Maria visita porque Se deixou visitar. Quem se encontra com Deus nunca se desencontra dos filhos de Deus. Maria ama com o amor de Deus, com o amor que recebeu de Deus.

As falhas de caridade e de solidariedade começam sempre por ser falhas de espiritualidade. Habituemo-nos, por isso, a visitar Deus, deixando-nos visitar por Deus. Procuremos escutar a Sua voz, acolher a Sua presença e pôr em prática os Seus apelos.

 

  1. A fé é, essencialmente, um mistério de visitação, um mistério de encontro. E, afinal, o que é o Natal senão um mistério de visitação e de encontro? É o encontro que lhe dá o encanto.

Não ponhamos Deus de lado nos nossos roteiros de Natal. Deixemo-nos visitar por Deus e procuremos levar aos outros a permanente visita de Deus. Não digamos que Deus não ouve, que Deus não vê ou que Deus não fala. Nós é que podemos não dar conta da Sua presença. Ao contrário do que se diz, Deus não está em silêncio; pode é estar a ser, por nós, silenciado. Mas nunca nos esqueçamos: é quando parece que está mais ausente que Deus está mais presente.

 

E. Não façamos explodir as armas; façamos «explodir» o amor

 

9. Nesta altura do ano, costumamos ver Deus presente no presépio. Mas não ignoremos que, em cada dia do ano, Deus está presente na Palavra e no Pão. Como não prestar atenção a esta (Sua) constante visitação? Deus está sempre a chegar. Deus está sempre a vir. Quando chega, inunda-nos de esperança. Quando vem, cobre-nos com a paz, com a Sua infinita paz (cf. Miq 5, 5). Como assinalou São Leão Magno, «o nascimento de Cristo é o nascimento da paz». A visitação de Deus é, pois, a visitação da paz.

A terra vive mergulhada em guerra e não consegue uma solução para sair de tanta aflição. À guerra respondemos com guerra e à violência costumamos devolver mais violência. Resultado: a guerra não decresce e a violência cresce. Só há um caminho: em vez de fazer explodir armas, façamos «explodir» Cristo.

 

  1. Na hora que passa, que parece ser de desgraça, é preciso voltar a introduzir graça. A Encarnação é um mistério de visitação, de visitação da graça de Deus. O mundo precisa de uma «explosão» de graça. Não hesitemos em fazer «explodir» a fé num mundo que quase já não acredita. Não hesitemos em fazer «explodir» a esperança num mundo que quase nada espera. E não hesitemos em fazer «explodir» amor num mundo que praticamente deixou de amar, mesmo que muito fale de amor. Só há amor quando o egoísmo se fecha e a doação se abre. Só há doação quando acontece visitação.

Não só neste Natal, mas também neste Natal, visitemos e deixemo-nos visitar. Visitemos Jesus no presépio e visitemos Jesus na Eucaristia. É bom compreender que o Filho de Maria nos visita sempre na Eucaristia. Visitemos, pois, Jesus na Missa e não deixemos de O visitar na Missão após a Missa. A Missão é urgente. A Missão é para toda a gente. A resposta pode não chegar, mas, mesmo assim, a proposta não deve demorar. Uma vez mais, olhemos para Maria. Que a Sua pressa nos apresse. Que a pressa de Maria na missão apresse a nossa decisão: a decisão de levar Cristo a cada irmão!

publicado por Theosfera às 05:43

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