O acontecimento de Deus nos acontecimentos dos homens. A atmosfera é sempre alimentada por uma surpreendente Theosfera.

Domingo, 04 de Outubro de 2015

A. Boas — e belas — notícias para as famílias

  1. Eis que, neste Domingo, somos presenteados com uma bela — e muito profunda — ressonância do Evangelho da Família. De facto, Deus também tem boas novas (boas notícias) sobre a família e para as famílias. Deus tem um projecto concreto para a família e uma proposta mobilizadora para fazer frente às nossas grandes inquietações sobre a família.

Neste Domingo, com efeito, somos ajudados a responder às duas perguntas fundamentais sobre a família: «em que consiste a família?» e «porque é que falham tantas famílias?».

  1. Desde logo, é importante saber que a família é, acima de tudo, uma criação divina, é uma invenção de Deus. Na linguagem própria do autor sagrado, a Primeira Leitura diz que, para Deus, «não é bom que o homem esteja só»(Gén 2, 18). Isto significa que Deus não nos criou para a solidão, mas para a relação. É pela relação que o homem realiza a sua semelhança com Deus (cf. Gén 1, 26).

É que o próprio Deus, sendo único, não é um. O próprio Deus, sendo único, não vive na solidão, mas em relação. Por conseguinte, a Santíssima Trindade é a primeira comunidade, a primeira família. Pelo que a família humana está destinada a ser a imagem por excelência da família divina.

 

B. A família que Deus quer

 

3. Tal como na família humana, também na família divina existe a conjugação entre a diferença e a unidade. O Pai é diferente do Filho e do Espírito Santo, o Filho é diferente do Pai e do Espírito Santo, o Espírito Santo é diferente do Pai e do Filho. E apesar disso — ou, melhor, por causa disso — todos estão unidos, formando uma família: a Santíssima Trindade. A unidade não exige que as pessoas sejam iguais. Pelo contrário, a unidade existe entre pessoas diferentes. O homem é diferente da mulher e a mulher é diferente do homem. E apesar disso — ou, melhor, por causa disso — são por Deus chamados a viver em unidade, em família.

É por este motivo que a família não nasce por uma decisão do homem e da mulher; a família nasce, antes de mais, por decisão de Deus. Neste sentido, o matrimónio não é uma questão a dois, é uma questão a três. O matrimónio não é apenas uma questão entre o homem e a mulher; é uma questão entre o homem, a mulher e Deus. É Deus quem os chama porque é Deus quem mais os ama. Nós acreditamos que é Deus que coloca este homem no caminho daquela mulher e esta mulher no caminho daquele homem.

 

  1. A última frase da Primeira Leitura torna tudo muito claro: «O homem deixará pai e mãe para se unir à sua mulher e os dois passarão a ser um só»(Gén 2, 24). Ou seja, Deus quer que o homem se una à mulher e que a mulher se una ao homem. Dessa união resulta uma coisa nova, uma coisa bela: a família. Deste modo, a família não nasce do domínio do homem sobre a mulher nem do domínio da mulher sobre o homem; a família nasce da união entre o homem e a mulher.

O homem e a mulher não deixam de ser o que são. A família, no pensamento de Deus, não anula nenhum dos seus membros. A família potencia e valoriza cada um dos seus elementos. A união não elimina, ilumina.

 

C. O amor entre o homem e a mulher é o amor de Deus no homem e na mulher

 

5. Jesus Cristo elevou esta união entre o homem e a mulher à dignidade de Sacramento. No fundo, a união entre o homem e a mulher é uma expressão do amor de Deus, do amor que é Deus e do amor que Deus tem por cada um de nós. Não espanta, por isso, que S. Paulo compare o amor entre os esposos ao amor que Cristo tem pela Sua Igreja, de que nós fazemos parte. Na Carta aos Efésios, ele pede aos esposos que se amem como Cristo amou a Igreja. E como é que Cristo amou a Igreja? Dando-se por ela, entregando-se por ela, oferecendo a vida por ela (cf. Ef 5, 25).

A esta luz, o amor que existe entre marido e esposa não é um somente um amor que nasceu entre um homem e uma mulher. Trata-se de um amor que, no homem e na mulher, foi depositado por Deus. É por isso que o homem e a mulher não se devem amar apenas como o seu amor, por muito grande que ele pareça. O homem e a mulher devem amar-se sempre com o amor de Deus, com o amor de Deus revelado em Cristo. Foi, aliás, o que nos pediu Jesus: que nos amemos uns aos outros como Ele nos amou, como Ele nos ama (cf. Jo 15, 12).

 

  1. Assim sendo, percebe-se que a preparação para o matrimónio e a vivência do casamento deviam ser, sobretudo, tempos de oração, tempos de escuta. Uma vez que o amor entre o homem e a mulher vem de Deus, então cada homem e cada mulher deviam dispor-se a acolher o amor que Deus neles depositou. Na verdade, foi esse amor que os juntou e é esse amor que os faz sobreviver como pessoas e como família. João Paulo II disse, há muitos anos, que «família que reza unida permanece unida». Pelo que a falta de união começa, quase sempre, pela falta de oração. Inversamente, o reforço da oração contribuirá para o crescimento da união. É por isso que o tempo para Deus será sempre o tempo mais precioso para a família.
  2. D. Porque é que as famílias falham?
  3. 7. Se têm tudo para dar certo, porque é que tantas famílias falham, porque é que tantas famílias acabam? Apenas por uma razão: porque nos desligamos de Deus. Tal como um viajante pelo deserto desfalece se não encontra uma fonte, a família desmorona-se se não bebe a água pura que lhe chega da parte de Deus. Por muitas ilusões que tenhamos, é importante que percebamos que sem Deus nada somos. De resto, o Filho de Deus preveniu-nos com suma clareza: «Sem Mim, nada podeis fazer»(Jo 15, 5).

Para Jesus, é a nossa «dureza» que estraga tudo. É a nossa «dureza» que conduz à falência da família. É a «dureza» da nossa mente — e do nosso coração — que nos impede de ver a verdade da família e de cultivar a beleza da vida familiar.

 

  1. Perante as objecções dos Seus contemporâneos (cf. Mc 10, 2), Jesus remete a discussão para a fonte, para a origem, para a criação. Recorda, por isso, o proto-Evangelho da família. A família, no plano de Deus, consiste na união entre um homem e uma mulher (cf. Mc 10, 6-7). É, portanto, esta a família que Deus quer: a família entre um homem e mulher, abertos à geração de novas vidas. E se é esta a vontade de Deus, será legítimo que alguém a modifique? Jesus não deixa lugar a dúvidas: «O que Deus uniu, não o separe o homem»(Mc 10, 9).

Ficam, assim, bem vincadas as propriedades essenciais do matrimónio: unidade e indissolubilidade, com a consequente abertura à vida. Não se trata de um mero projecto ideal. Trata-se, obviamente, de um ideal — de um belíssimo ideal — que há-de tornar-se real, que há tornar-se realidade em cada dia.

 

E. Os problemas existem para serem vencidos, não para (nos) vencerem

 

9. Como tem recordado o Papa Francisco, a Igreja recebeu esta mensagem de Jesus, não se sentindo, portanto, em condições de a alterar. A Igreja é serva — não dona — da Palavra de Deus. Ela recebeu o encargo de a difundir, não de a modificar. Mas, então, e os problemas da família? Como lidar com tantos dramas, com tantas separações? Como ajudar tantas famílias que terminam e que, muitas vezes, mal chegaram a começar?

É claro que a Igreja, como não se têm cansado de repetir os seus pastores, tem de usar sempre de misericórdia. As portas da Igreja estarão sempre abertas e o coração da Igreja será um coração permanentemente sensível. Os que estão em maior dificuldade merecerão um maior acolhimento. Os que a vida mais feriu serão envolvidos por um acréscimo de compreensão, de solidariedade e de evangélica compaixão. Enfim, é preciso aproximar a mensagem das famílias. E é fundamental aproximar as famílias da mensagem.

 

  1. Não sendo ninguém excluído, também ninguém deverá ser iludido. Tal como o remédio para a doença não é a eliminação do doente, também a solução para os problemas da família não é a dissolução das famílias. O caminho só pode ser a revitalização da família e o apoio às famílias. Há muitos problemas nas famílias e há famílias com muitos problemas. Uma coisa, no entanto, é certa: os problemas existem não para nos vencerem, mas para serem vencidos por nós com a ajuda de Deus.

Queridas famílias, não comeceis a desistir e nunca desistais de começar. Queridas famílias que estais em maior dificuldade, não desistais de vós. Maridos, não desistais das vossas esposas; esposas, não desistais dos vossos maridos. Filhos, não desistais dos vossos pais. Netos, não desistais dos vossos avós. Acreditai que aquilo que nos parece sombrio em muitos fins de tarde acabará por ser novamente luminoso ao nascer de uma qualquer manhã. E nunca esqueçais que, como já dizia Sto. Agostinho, às vezes, é quando parece que tudo acaba que tudo verdadeiramente começa. A vossa família é muito bela. Não desperdiceis tanta beleza que Deus acendeu no vosso lar, no vosso coração, na vossa vida!

publicado por Theosfera às 15:50

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