O acontecimento de Deus nos acontecimentos dos homens. A atmosfera é sempre alimentada por uma surpreendente Theosfera.

Quarta-feira, 18 de Fevereiro de 2015

1. A imposição das cinzas recorda que a nossa vida na terra é passageira e que a nossa vida definitiva está na eternidade, com Deus.
A Quaresma começa com a Quarta-feira de Cinzas e é um tempo de oração, penitência e jejum como preparação para a celebração da Páscoa. São quarenta dias que a Igreja propõe para a nossa conversão.

 

2. O uso das cinzas com este significado penitencial tem a sua origem no Antigo Testamento.
Aqui, as cinzas simbolizam dor, morte e penitência.

 

3. Por exemplo, no livro de Ester, Mardoqueu veste-se de saco e cobre-se de cinzas quando sabe do decreto do Rei Assuero I da Pérsia, que condenou à morte todos os judeus do seu império. (Est 4,1).
Job também se veste de saco e cobre-se de cinzas (Job 42,6).

 

4. Daniel, ao profetizar a captura de Jerusalém pela Babilónia, escreveu: «Voltei-me para o Senhor Deus a fim de Lhe dirigir uma oração de súplica, jejuando e impondo-me o cilício e a cinza» (Dan 9,3).
Por sua vez, Jeremias, dirigindo-se ao povo, apela: «Meu povo, veste-te de saco, luto e lamento, e revolve-te sobre as cinzas»(Jer 6, 26).

 

5. No século V antes de Cristo, logo depois da pregação de Jonas, o povo de Nínive proclamou um jejum a todos e se vestiram de saco, inclusive o Rei, que se levantou do seu trono e sentou-se sobre cinzas (Jn 3,5-6).
Estes exemplos, retirados do Antigo Testamento, demonstram a prática estabelecida de usar cinzas como símbolo de arrependimento.

 

6. Entretanto, o próprio Jesus faz referência ao uso das cinzas.
A respeito dos povos que se recusavam-se a arrepender-se dos seus pecados, apesar de terem visto os milagres e escutado a Boa Nova, Jesus afirmou: «Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque se tivessem sido feitos em Tiro e em Sidónia os milagres que foram feitos no vosso meio, há muito tempo elas se teriam arrependido sob o cilício e as cinzas» (Mt 11,21).

 

7. A Igreja, desde os primeiros tempos, continuou a prática do uso das cinzas com o mesmo simbolismo. No seu livro «De Poenitentia», Tertuliano prescreveu que um penitente deveria «viver sem alegria vestido com um tecido de saco rude e coberto de cinzas».
O famoso historiador Eusébio relata, na sua obra «A História da Igreja», que um apóstata chamado Natalis apresentou-se vestido de saco e coberto de cinzas diante do Papa Zeferino, para lhe pedir perdão.

 

8. Sabe-se que, na antiguidade cristã, existiu uma prática que consistia no sacerdote impor as cinzas a todos aqueles que deviam fazer penitência pública. As cinzas eram colocadas quando o penitente saía do Confessionário.
Com efeito, nos primeiros séculos da Igreja, os fiéis que tinham cometido faltas graves, de notoriedade pública, deviam submeter-se a uma penitência pública.

 

9. No início da Quaresma, os cristãos que tivessem praticado escândalos públicos recebiam as cinzas sobre a sua cabeça. Também podiam receber um cilício, um cinto de lã áspera ou eriçado com pontas de arame, e que se trazia cingido aos rins.
Enquanto o coro entoava salmos penitenciais, eram acompanhados até à porta da igreja.

 

10. Até Quinta-feira Santa, não podiam participar nas celebrações, permanecendo no adro em sinal de penitência.
Só na Quinta-feira Santa depunham os sinais de penitência e podiam entrar de novo na igreja mediante absolvição sacramental.

 

11. No período medieval, por volta do século VIII, as pessoas que estavam para morrer eram deitadas no chão sobre um tecido de saco coberto de cinzas.
O sacerdote benzia o moribundo com água benta dizendo-lhe: «Recorda-te que és pó e em pó te converterás». Depois de aspergir o moribundo com água benta, o sacerdote perguntava: «Estás de acordo com o tecido de saco e as cinzas como testemunho da tua penitência diante do Senhor no dia do Juízo?» O moribundo então respondia: «Sim, estou de acordo».

 

12. Em todos estes exemplos, nota-se que o simbolismo do tecido de saco e das cinzas servia para representar os sentimentos de aflição e arrependimento, bem como a intenção de fazer penitência pelos pecados cometidos.
Com o passar dos tempos o uso das cinzas foi adoptado como sinal do início da Quaresma.

 

13. O ritual para a Quarta-feira de Cinzas já era parte do Sacramental Gregoriano.
As primeiras edições deste sacramental datam do século VII.

 

14. Hoje em dia, as penitências públicas não seriam compreendidas nem aceites. E, afinal, de forma pública ou de forma privada (mas com repercussão comunitária), todos somos pecadores.
Por isso, as cinzas são colocadas em todos.

 

15. A cerimónia da bênção e imposição das cinzas, tal como a conhecemos actualmente, é um vestígio da antiga penitência pública, extensiva a todos.
Aliás, começou a ser obrigatória para toda a comunidade cristã a partir do século X.

 

16. A liturgia actual conserva os elementos tradicionais: imposição das cinzas e jejum.
As cinzas são feitas com os ramos das palmeiras que foram usadas na procissão de Ramos do ano anterior, que se guardam e se queimam para esse efeito.

 

17. A fórmula de bênção das cinzas faz menção da condição pecadora de quem as vai receber.
Basicamente, as cinzas simbolizam: 1) a situação pecadora do homem, a oração e a súplica ardente para que Deus o ajude; 2) a ressurreição, já que o homem está destinado a participar no triunfo de Cristo.

 

18. O sacerdote abençoa as cinzas e coloca-as na fronte de cada fiel traçando com elas o Sinal da Cruz.
Nessa altura, diz : «Lembra-te, homem, que és pó da terra e à terra hás-de voltar»(cf. Gén 3, 19) ou então «Arrependei-vos e acreditai no Evangelho»(Mc 1, 15).´

 

19. Começamos, assim, a Quaresma examinando o nosso passado e tomando consciência do nosso pecado.
Só assim poderemos voltar os nossos corações para Jesus, que sofreu, morreu e ressuscitou para nossa salvação.

 

20. Este tempo serve para renovar as promessas do nosso Baptismo e para nos reaproximarmos de Deus pelo Sacramento da Reconciliação, que os antigos denominavam «Baptismo laborioso».
Deste modo, estaremos a preparar condignamente a celebração da Páscoa de Jesus, incorporando em nós uma vida genuinamente pascal, ou seja, transformada.

publicado por Theosfera às 00:03

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