Como entender, então, esta afirmação? Será que o Pai é mesmo maior que o Filho? Como articular esta frase com uma outra: «Eu e o Pai somos um só» (Jo 10, 30)?
Haverá contraste? O Filho é menor ou é igual ao Pai? Digamos que ambas as afirmações estão certas, como é óbvio.
Segundo M.A.Fernando, as «relações entre o Pai e Jesus não podem expressar-se em termos de uma igualdade absoluta, sem qualquer resíduo de diferença. Também não se podem expressar dizendo que o Pai é 'melhor' que o Filho; ou vive-versa, que o Filho é 'melhor' que o Pai, porque carregou sobre as Suas costas com a parte mais dura da redenção; de facto, são muitos hoje os que vêem com mais simpatia a Jesus que o Pai, cuja maneira de tratar o Seu Filho e de governar o mundo os escandaliza.
João não hesitou em dizer na primeira página do seu evangelho que Jesus Cristo é a Palavra que 'já existia no princípio junto do Pai e na qualidade de Deus', mas também não titubeia quando põe na boca de Jesus esta afirmação: 'o Pai é maior que Eu'.
É impensável que o evangelista se tenha esquecido do prólogo quando escrevia 14, 28. Logo não há contradição entre ambas as expressões. Isso quer dizer que o leitor deverá esquecer as conotações de superioridade e inferioridade qualitativa, que acarreta o termo 'maior' na linguagem comum.
Assim, pois a expressão o Pai é maior que Eu significa, antes de tudo, que na origem do mundo e da salvação dos homens há uma pessoa concreta: o Deus que é Pai, por impulsos de amor, comunica a Sua vida eterna aos homens, por Seu Filho, que é também uma pessoa concreta: Jesus de Nazaré, distinto do Pai mas participante da Sua própria vida divina».
Em síntese e de acordo com Mateus-Barreto, o Pai é maior não porque seja mais divino, masporque «n'Ele Jesus tem a Sua origem (1, 32; 3, 13.31; 6, 51), o Pai O consagrou e enviou (10, 36) e tudo o que tem procede do Pai (3, 35; 5, 26s; 17, 1)».