- Neste dia 15 de Abril, faz 374 anos que partiu uma embaixada portuguesa para Roma.
Objectivo? Obter o reconhecimento do Papa para a independência de Portugal, conseguida a 1 de Dezembro de 1640. Para liderar essa embaixada foi escolhido D. Miguel de Portugal, Bispo de Lamego.
- D. João IV queria que o Papa o reconhecesse como rei. Por isso, nada melhor do que colocar um clérigo à frente da delegação.
Com esse propósito, D. Miguel foi chamado a Lisboa a 8 de Janeiro de 1641 tendo sido distinguido com o título de «embaixador extraordinário».
- O rei admirava-o não só pelo seu saber, mas também «pela sua delicadeza natural».
É claro que esta era uma missão deveras melindrosa. Sabia-se que os representantes de Espanha iriam fazer tudo para impedir a audiência papal. Mas o rei já se contentava com um encontro privado.
- Como foi dito, a partida ocorreu a 15 de Abril. Em Paris, o Núncio Apostólico rescusou-se a receber a delegação portuguesa. Não era bom augúrio, mas nem isso foi motivo para desistir.
- Miguel chegou a Roma a 20 de Novembro, sete meses depois de ter saído de Lisboa, recebendo escolta pontifícia porque constava que os espanhóis já mobilizavam pessoal e armas.
- O Papa Urbano VIII esteve a par de todas as movimentações, mas nunca chegou a satisfazer as pretensões portuguesas.
A Espanha moveu as suas influências e conseguiu que o Sumo Pontífice não recebesse D. Miguel: nem como embaixador nem sequer como bispo!
- O máximo que conseguiu, depois de muita insistência, foi uma recepção pelas portas secretas. Mas isso foi rejeitado pelo bispo de Lamego.
Como refere Gonçalves da Costa, a Espanha «moveu uma verdadeira guerra diplomática enviando à cúria pontifícia longos e sucessivos memoriais contra o direito de D. João IV, libelos que os portugueses procuravam rebater pelo mesmo processo».
- Assim se foi passando o tempo. O ano de 1642 foi todo passado em Roma, com diligências portuguesas e obstáculos espanhóis. Estes não olharam a meios e, a 20 de Agosto, organizaram mesmo um atentado contra D. Miguel, que regressava de uma ceia em casa do embaixador francês.
O bispo de Lamego não foi atingido. Conseguiu chegar à sua residência. Mas do confronto resultaram vários mortos: cinco do lado português e oito do lado espanhol!
- D. João IV, que era cristão devoto, ficou desapontado e determinou que, se até 20 de Novembro (quando se completava um ano de permanência em Roma), o Papa não recebesse D. Miguel, este regressaria a Portugal.
Agastado e completamente exausto, abandonou Roma a 20 de Dezembro de 1642. O Papa nem a bênção apostólica deu ao representante do monarca português.
- A missão não teve o resultado desejado, mas D. Miguel não deixou de ter o reconhecimento devido. D. João IV ficou-lhe sempre grato e quis nomeá-lo arcebispo de Évora. Só que o Papa — uma vez mais! — não atendeu o seu pedido.
Mas ele também faleceu pouco depois, a 3 de Janeiro de 1644. Morreu porventura desapontado com o que se passou em Roma, mas certamente reconfortado por ter servido o seu país.
- Lamego não o esqueceu. A sua figura está imortalizada em frente ao Museu, que, como se sabe, foi, durante muito tempo, a Casa Episcopal. O monumento foi inaugurado em 1951 e é uma obra do escultor madeirense Francisco Franco.
Quem por ali passar terá oportunidade de evocar alguém que tinha Portugal no nome e no coração. E que fez tudo para que o país fosse reconhecido no mundo!