- À hora em que menos se pensa (cf. Mt 24, 44), eis que vem a ordem para partir.
Ninguém pensava que o senhor D. António Francisco dos Santos partisse tão cedo. Nós, em Lamego, até esperávamos que ele chegasse nesta quarta-feira.
- No passado sábado, tinha reunido uma multidão no Santuário de Fátima.
Amanhã iria, com certeza, congregar muita gente no Santuário de Nossa Senhora dos Remédios.
- Nestas horas, é difícil evitar lugares comuns, ainda que estejamos perante um homem notavelmente incomum.
Mas o senhor D. António era mesmo um homem bom, que gostava de estar com as pessoas, levando-lhes a contagiante bondade de Deus.
- Recordo uma quadra (de António Aleixo) que ele nos mandou comentar no primeiro teste de Filosofia que nos deu, há 37 anos.
«Eu não tenho vistas largas/Nem grande sabedoria/Mas dão-me as horas amargas/Lições de Filosofia».
- Como é amarga esta hora! E que lições nos são dadas por esta amarga hora!
Não são só lições de Filosofia. São impagáveis lições que a vida dá à própria Filosofia. Para Montaigne, «filosofar é aprender a morrer». E, segundo Zubiri, «viver é estar perante a morte».
- Nós, muitas vezes, evitamos estar diante da morte. Mas a morte não evita estar diante de nós. E, um dia, acaba por nos levar.
Ficamos «desarmados» pelo torpor e pelo espanto. O espanto é o início de toda a aprendizagem. Foi o que ensinou Karl Jaspers num livro que o senhor D. António nos recomendou.
- O espanto paralisa-nos em horas como esta.
Apesar de a morte andar sempre próxima, nós insistimos em imaginá-la distante. Só que ela teima em vir. E começa por levar os melhores, como se a eternidade tivesse pressa em desfrutar da sua companhia.
- O senhor D. António era uma pessoa de bem em graus de excelência. Aonde chegava, parecia que sempre lá tinha estado, tal era a empatia que gerava.
Nas mãos de Deus se entregou desde o início da sua missão. Nas mãos de Deus se entregou até ao fim da sua vida.
- Ainda esperávamos muito dele. Mas o que ele nos deixou é (mais que) suficiente para imortalizar a sua passagem pelo mundo.
O senhor D. António deixou muito de si. O senhor D. António leva seguramente muito de nós.
- Sentimos a sua falta. Continuaremos a sentir a sua presença.
Nunca estará longe quem de todos esteve (tão) perto!