1. Os feriados não foram criados para descansar. Os feriados foram instituídos, antes de mais, para celebrar.
O descanso, aqui, não é fundamental; é instrumental. Não é o objectivo; é a possibilidade. O descanso é oferecido a todos para que muitos possam celebrar.
O feriado de 1 de Novembro é um dos que desapareceu. Deixou de ser dia de descanso. Mas estou certo de que continuará a ser dia de celebração.
2. Em cada dia, os cristãos assinalam vários santos. Hoje é dia de todos os santos.
A santidade é, sem dúvida, excepcional. Mas não devia ser a excepção. A santidade é para todos. É para os que sobrevivem na eternidade. E é para os que ainda caminham no tempo.
3. Por aqui se vê como, ao contrário do que parece aos olhos de muitos, a santidade não nos retira do mundo. É, aliás, no mundo que somos chamados à santidade.
Deus não deixa ninguém de lado no chamamento que faz. É por isso que o Concílio Vaticano II fala da «vocação universal» à santidade.
4. É claro que as pessoas costumam indexar a santidade ao extraordinário. Mas a santidade habita, desde logo, naquilo que é ordinário.
Habituámo-nos a relacionar a santidade com actos heróicos e gestos incomuns. Mas a santidade emerge na vida quotidiana, muitas vezes imperceptível e, quase sempre, incógnita.
5. O registo da santidade é conferido pelo milagre. Mas o milagre não é só o que supera as leis da natureza.
Há muitos milagres na existência diária de pessoas que estão à nossa beira. E nós nem reparamos neles.
Não será um grande milagre subsistir no meio de tanta adversidade? No meio de tanta injustiça?
6. A santidade não nos desmundaniza nem nos desumaniza. Pelo contrário, a santidade mundaniza-nos e humaniza-nos, fraternizando-nos.
A santidade faz de nós irmãos. Torna-nos mais humanos e mais envolvidos na transformação do mundo.
7. Existe santidade quando se reza. Mas também subsiste santidade quando se trabalha. Quando se participa na denúncia da injustiça e no anúncio da verdade.
A santidade não é indiferença; é diferença. Santo não é aquele que se mostra indiferente ao que ocorre à sua volta. Santo é o que se envolve, o que se manifesta.
A santidade nunca é fria. A santidade é quente, calorosa. O santo abraça, ri, chora, grita, insiste, persiste. E nunca desiste.
8. A santidade é a surpresa da paz no meio da tempestade. A santidade não é estrepitosa. Muitas vezes, até é silenciosa, mas sempre interveniente, interpelante.
A santidade está ao alcance de todos. A santidade acontece em casa, na estrada, no trabalho. O santo não é um anormal. O santo não deixa de ser pecador e todo o pecador pode tornar-se santo.
9. Um dia, alguém perguntou a Óscar Wilde: «Sabes qual é a diferença entre um santo e um pecador?». O escritor irlandês respondeu: «Sei. É que o santo tem sempre um passado e o pecador tem sempre um futuro».
No fundo, o santo é o pecador que, consciente do seu passado, continua a querer superar-se no seu futuro.
10. Se pensarmos bem, os santos não estão apenas no altar nem figuram somente nos andores.
Não há só santos de barro. Há muitos santos de carne e osso, às vezes, mais osso que carne. Há muitos santos com fome. Há muitos santos na rua. Há muitos santos de enxada na mão. Há muitos santos com lágrimas no rosto e rugas na face.
11. Não devemos reparar nos santos só depois da morte. Os santos merecem ser imitados durante a vida. Durante a sua vida. Durante a nossa vida!