O acontecimento de Deus nos acontecimentos dos homens. A atmosfera é sempre alimentada por uma surpreendente Theosfera.

Domingo, 02 de Novembro de 2014

 

  1. Grande mistério é a vida. Enorme mistério é a morte. Por um lado, é a situação mais óbvia e mais certa com que contamos. Por outro lado, transporta uma carga de incerteza insuperável.

Quando virá? Que sucederá depois dela? Epicuro, em plena antiguidade clássica, confessava: «A morte nada é para nós».

 

  1. De facto, empiricamente assim é. Quando a morte vem, nós já não estamos.

Só sentimos a morte dos outros, não a nossa. Como um rio que desagua no oceano, a nossa vida é um caminho que, inevitavelmente, termina na morte.

 

  1. É por isso que Zubiri dizia que «viver é existir frente à morte». Conseguimos adiá-la. Em muitos casos, por muito tempo.

Vamos coleccionando bastantes vitórias sobre a morte. Mas chega um momento em que a morte triunfa. Basta-lhe essa vitória.

 

  1. Bruno Forte afirmava que o homem é um paradoxo de alguém que luta pela vida e que, ao mesmo tempo, caminha para a morte.

Ainda que vivamos 100 (ou mais) anos, hoje estamos um dia mais perto da morte do que estávamos ontem.

 

  1. É na fé que tudo se transfigura. Na fé, a morte não é o fim. A morte é como uma porta: fecha a vida terrena, abre-nos para a vida eterna.

Na fé, nem o fim é fim!

 

  1. A morte passeia-se a cada passo pelo mundo. Umas vezes, de modo sorrateiro. Outras vezes, de forma estrepitosa.

Em qualquer caso, a morte está sempre a aparecer, impante, e a deixar marcas da sua impiedosa crueldade.

 

  1. Que dizer junto de quem vê a morte por perto? As palavras são espuma que depressa se liquefaz, terapia com efeito evanescente.

Importante é estar, é olhar, é fazer sentir que estamos com as pessoas. Na vida. Na doença. Na morte. Em toda a parte. E sempre.

 

  1. É certo que o Padre António Vieira assegurava que «nenhuma coisa desengana a quem quer enganar-se». Sucede, porém, que, muitas vezes, só damos conta do engano depois de termos sido enganados.

No engano, raramente existe prevenção. Os enganadores primam pela astúcia. Só que arriscam-se a enganar apenas uma vez. Depois, até podem professar seriedade. Mas quem garante que o enganador não voltará a enganar?

 

  1. Dificilmente encontraremos coisa mais passageira que a fama. E, no entanto, quantos lutam por ela, quantos se atropelam por causa dela.

Júlia Roberts, que sabe bem do que fala, confessa que «a fama é apenas uma brisa que passa». E o problema é que, enquanto não passa, vai deixando passar tudo o resto.

 

  1. A preocupação pela fama leva a que as pessoas não se preocupem com o mais importante, com o mais sólido, com o mais duradouro. Coisa pouca é a fama. Para quê tanto investimento à volta dela?

Miguel Torga avisou: «A minha fome não é de fama; é de eternidade». Muitas vezes, quase sempre, a fama difama. A fama acaba por atrair «nós» infindos de especulações e conjecturas que culminam num mar interminável de intrigas, difamações e até calúnias. Feliz quem não procura a fama. Feliz quem não é famoso. Feliz quem opta por ficar no coração das pessoas. E não nas páginas das revistas.

 

  1. Como encarava João XXIII a missão de governar a Igreja? «Omnia videre, multa dissimulare, pauca corrigere»: ver tudo, não dar importância a muito, corrigir pouco.

Muito sábio o bom Papa João!

 

publicado por Theosfera às 17:33

De Evágrio Pôntico a 2 de Novembro de 2014 às 18:52
Mais um texto admirável !

Sr. Padre João, deve encarar a ideia de publicar em livro tão belos e profundos textos. São verdadeira antologia, que precisa de ser conhecida por um vasto público, para edificação de muitos.

Paz e Bem !


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