- Grande mistério é a vida. Enorme mistério é a morte. Por um lado, é a situação mais óbvia e mais certa com que contamos. Por outro lado, transporta uma carga de incerteza insuperável.
Quando virá? Que sucederá depois dela? Epicuro, em plena antiguidade clássica, confessava: «A morte nada é para nós».
- De facto, empiricamente assim é. Quando a morte vem, nós já não estamos.
Só sentimos a morte dos outros, não a nossa. Como um rio que desagua no oceano, a nossa vida é um caminho que, inevitavelmente, termina na morte.
- É por isso que Zubiri dizia que «viver é existir frente à morte». Conseguimos adiá-la. Em muitos casos, por muito tempo.
Vamos coleccionando bastantes vitórias sobre a morte. Mas chega um momento em que a morte triunfa. Basta-lhe essa vitória.
- Bruno Forte afirmava que o homem é um paradoxo de alguém que luta pela vida e que, ao mesmo tempo, caminha para a morte.
Ainda que vivamos 100 (ou mais) anos, hoje estamos um dia mais perto da morte do que estávamos ontem.
- É na fé que tudo se transfigura. Na fé, a morte não é o fim. A morte é como uma porta: fecha a vida terrena, abre-nos para a vida eterna.
Na fé, nem o fim é fim!
- A morte passeia-se a cada passo pelo mundo. Umas vezes, de modo sorrateiro. Outras vezes, de forma estrepitosa.
Em qualquer caso, a morte está sempre a aparecer, impante, e a deixar marcas da sua impiedosa crueldade.
- Que dizer junto de quem vê a morte por perto? As palavras são espuma que depressa se liquefaz, terapia com efeito evanescente.
Importante é estar, é olhar, é fazer sentir que estamos com as pessoas. Na vida. Na doença. Na morte. Em toda a parte. E sempre.
- É certo que o Padre António Vieira assegurava que «nenhuma coisa desengana a quem quer enganar-se». Sucede, porém, que, muitas vezes, só damos conta do engano depois de termos sido enganados.
No engano, raramente existe prevenção. Os enganadores primam pela astúcia. Só que arriscam-se a enganar apenas uma vez. Depois, até podem professar seriedade. Mas quem garante que o enganador não voltará a enganar?
- Dificilmente encontraremos coisa mais passageira que a fama. E, no entanto, quantos lutam por ela, quantos se atropelam por causa dela.
Júlia Roberts, que sabe bem do que fala, confessa que «a fama é apenas uma brisa que passa». E o problema é que, enquanto não passa, vai deixando passar tudo o resto.
- A preocupação pela fama leva a que as pessoas não se preocupem com o mais importante, com o mais sólido, com o mais duradouro. Coisa pouca é a fama. Para quê tanto investimento à volta dela?
Miguel Torga avisou: «A minha fome não é de fama; é de eternidade». Muitas vezes, quase sempre, a fama difama. A fama acaba por atrair «nós» infindos de especulações e conjecturas que culminam num mar interminável de intrigas, difamações e até calúnias. Feliz quem não procura a fama. Feliz quem não é famoso. Feliz quem opta por ficar no coração das pessoas. E não nas páginas das revistas.
- Como encarava João XXIII a missão de governar a Igreja? «Omnia videre, multa dissimulare, pauca corrigere»: ver tudo, não dar importância a muito, corrigir pouco.
Muito sábio o bom Papa João!