- Que devemos fazer para que a violência acabe? Ou, melhor, que devemos não fazer para que a violência termine?
Pelo que se vê, o problema tem estado no que se faz. A agir e a reagir, a atacar e a defender, não temos conseguido estancar a hemorragia de violência que se abateu sobre o mundo.
- Assim sendo, o mais avisado será pensar não no que se deve fazer, mas no que se deve não fazer.
Tendo em conta que toda a vida é inviolável e que toda a pessoa é sagrada, então nenhuma vida pode ser eliminada e nenhuma pessoa poderá ser ofendida.
- O consenso é imperioso, mas a convergência parece inviável.
Os que matam invocam motivos para estar ofendidos. Os que ofendem não encontram motivos para ser mortos.
- Acresce que estas posições coexistem no mesmo tempo e disputam o mesmo espaço.
O mesmo lugar pode abrigar culturas diferentes e concepções opostas.
- Discordar é legítimo e incomodar até pode ser saudável. Mas ofender será, alguma vez, dignificante?
Há quem defenda a liberdade de ofender como uma consequência da liberdade de expressão. Podemos deslizar, porém, por um caminho sinuoso.
- Com efeito, não faltará quem alegue a violência como uma extensão dessa mesma liberdade de expressão.
Se uns se exprimem ofendendo, outros tenderão a exprimir-se vingando-se da ofensa.
- Pergunta-se se uma liberdade com limites será liberdade. Mas será que o ilimitado está ao alcance do humano?
Se a própria vida tem um limite, como é que no decurso da vida se pode arrogar algo ilimitado?
- Se a liberdade de alguém fosse ilimitada, como é que a liberdade dos outros poderia ser exercida?
A convivência entre pessoas terá de ser um esforço de coexistência entre liberdades.
- O que para nós é aceitável, para os outros pode ser inadmissível.
Não é lícito que qualquer opinião seja vista como uma ofensa. Mas também não é curial que a ofensa seja olhada como mera opinião.
- Procuremos ver sempre o lado dos outros. Ou será que a «cegueira individualista» nos está a contaminar, impedindo-nos de ver para lá de nós? Matar não tem justificação possível. Mas ofender também não tem defesa convincente.
Entretanto, o desprezo vai cavando muitas feridas. E o ódio vai fazendo imensas vítimas…