- O ateísmo tem várias formas e actua em muitos campos.
É mais subtil do que se pensa e mais tentador do que parece. Nem as religiões lhe escapam.
- Ateu, com efeito, não é só quem não conta com Deus na sua existência. Ateu é também — e sobretudo — quem rejeita Deus com a vida.
Está muito estudado o ateísmo conceptual. Devia ser mais analisado o ateísmo existencial.
- Para a difusão do ateísmo não concorre apenas o argumento. Concorre igualmente — e talvez ainda mais — o comportamento.
A incoerência de certos comportamentos religiosos é mais perigosa que é a possível consistência de muitos argumentos ateus.
- No âmbito existencial, podemos dizer que o ateísmo assume duas modalidades principais: o não-teísmo e o antiteísmo.
O não-teísmo caracteriza-se pela ausência de Deus. Já o antiteísmo destaca-se especialmente pela negação de Deus.
- Se estivermos atentos, notaremos que estas atitudes não ocorrem apenas fora das religiões.
Também no interior das religiões, há quem cultive uma vida sem Deus. E quem leve uma vida contrária a Deus.
- O resultado não é difícil de antecipar.
Uma vida sem Deus não atrai ninguém para Deus. E uma vida contrária a Deus acaba por afastar muita gente de Deus.
- Os maiores entraves à credibilidade das religiões são a mediania e a violência.
A mediania não cativa. E a violência afugenta.
- Sucede que, não cativando para Deus, a mediania pode ser suficiente para conservar muitos na religião.
E acontece que, afugentando de Deus, a violência pode arrastar bastantes para o universo religioso.
- Em vez de se nivelar as práticas religiosas pelo conceito de Deus, opta-se por aferir o conceito de Deus por certas práticas religiosas.
Deus, em Si mesmo, é transcendência, mas muitas atitudes religiosas não superam a vulgaridade. Deus é, acima de tudo, paz, mas muitos procedimentos religiosos pautam-se pela violência.
- É urgente perceber que, enquanto experiência de superação, a religião não pode ficar-se pelo mais elementar, pelo mais imediato. Se viver é ultrapassar-se (como notou Pascal), dir-se-ia que a vivência religiosa consiste em ultrapassar-se infinitamente.
A fé, segundo Paul Tillich, transporta-nos para o que é último. Pelo contrário, a violência mantém-nos onde costumamos estar. Só cortando com este presente, entraremos no limiar de um futuro diferente!