- Nestes tempos de consumo imparável e desgaste vertiginoso, até as palavras parecem estar em saldo. E a soldo das últimas modas.
Há palavras que já não dizem. Há palavras que pouco valem. Só cansam.
- À força de as repetirmos até à exaustão, há palavras que estagnam nos lábios. Não advertimos a sua raiz. Nem tão-pouco reparamos na sua real significação.
Há certas palavras que não passam de chavões, funcionando como travões para a discussão. Nada se avança com elas.
- Os verdadeiros arautos do progresso já devem estar saturados de algum progressismo.
De facto, há um progressismo que paralisa e enquista. Há um progressismo que não é progressivo. Enfim, há um progressismo que não progride.
- Tal progressismo acaba por bloquear tanto o progresso como o mais empedernido conservadorismo.
Pode até ser mais prejudicial. O conservadorismo não ousa, mas pelo menos mantém. Pelo contrário, algum progressismo dissolve, esvazia.
- E é assim que, numa guinada paradoxal, o progressismo pode tornar-se mais conservador que o próprio conservadorismo.
Além de não levar para melhor, arrisca-se a fazer-nos recuar até ao nada.
- É justo que se reconheça o importante papel que o progressismo é capaz de desempenhar: questionar e mudar.
Falta, porém, perceber que nem sempre mudar equivale a melhorar. E, por vezes, alterar é facilmente confundido com adulterar.
- Acresce que há mudanças que acontecem onde não deviam acontecer e não ocorrem onde deviam ocorrer.
O que urge mudar é a vida, a nossa vida.
- Os primeiros cristãos eram muitos ciosos no apelo à mudança de vida. Faziam, entretanto, coexistir tal apelo à mudança com um forte empenho na conservação da mensagem.
Uma vez que Cristo é sempre o mesmo (cf. Heb 13, 8), é a novidade por Ele trazida que deve ser vivida.
- Nenhuma inovação é mais renovadora que a novidade oferecida por Cristo.
Daí que, já no século III, o Papa Estêvão I tenha defendido que «nada de novo seja introduzido a não ser aquilo que (nos) foi transmitido» (nihil innovetur nisi quod traditum est).
- Alterar a novidade que nos foi entregue não seria progressivo, mas profundamente regressivo. Nunca esqueçamos isto: ninguém é mais renovador que Jesus Cristo.
Assim sendo, o que tem de mudar não é a Sua proposta; é a nossa resposta!