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Domingo, 15 de Janeiro de 2017

A. No Tempo Comum, o Mistério continua a ser Incomum

  1. O Tempo Comum não é um tempo menor. Cronologicamente, até é o tempo maior. É, de facto, o período de tempo mais longo, estendendo-se por 33 ou 34 semanas. O Tempo Comum está longe de ser um tempo pouco importante. Como não há-de ser um tempo importante se, no Tempo Comum, celebramos um Mistério sempre Incomum?

A nossa participação é que não pode ser menos numerosa ou menos activa. O Tempo Comum é também um tempo comunitário, o tempo para a comunidade.

 

  1. Além das festas anuais, como o Natal, a Páscoa e os Santos, nós, cristãos, temos uma Festa Semanal: a Páscoa. Com efeito, nunca é demais recordar que, antes da celebração anual, a Páscoa começou a ser celebrada todas as semanas, ao Domingo.

Espanta, porém, que, sendo este um dado tão antigo e tão constante, seja também algo tão esquecido por muitos cristãos. Como é possível que muitos de nós não celebrem o acontecimento central da nossa fé e da nossa vida?

 

B. Em cada semana, uma festa

 

3. Não basta a celebração anual nem chega uma celebração ocasional. Já quando os cristãos eram perseguidos, faziam todos os possíveis — às vezes, no limiar do próprio impossível — para não prescindirem do Domingo. «Não podemos viver sem o Domingo», disseram muitos mártires antes de serem mortos.

É bom não esquecer que também houve muitos mártires do Domingo. Ainda hoje há quem, sobretudo na África e nas Américas, faça dezenas — e até centenas — de quilómetros para celebrar o Domingo. E nós, que ainda temos a possibilidade de celebrar o Domingo à porta de casa, que esforço fazemos?

 

  1. O Domingo é celebrado à mesa da Palavra e à mesa do Pão. Ou seja, o Domingo é celebrado através da Eucaristia. É esta Eucaristia sacramental que nos transporta para a Eucaristia existencial, que somos chamados a levar para a nossa vida. Aliás, a própria terminologia nos ajuda a perceber que Domingo é Dia do Senhor, é dia para o Senhor. E esta vivência do Domingo como Dia do Senhor está, obviamente, centrada na Eucaristia.

Eis, por isso, uma missão que desponta à nossa frente: ajudar os nossos irmãos a virem a esta grande festa semanal. O terceiro Mandamento da Lei de Deus e o primeiro Mandamento da Santa Igreja impelem-nos para isso. O terceiro Mandamento da Lei de Deus lembra-nos a obrigação de santificar o Domingo (que é o novo Sábado) e Festas de Guarda. Por sua vez, o primeiro Mandamento da Santa Igreja concretiza em que consiste essa santificação: participar na Missa inteira no Domingo e Festas de Guarda.

 

C. O Precursor abre caminho para o Salvador

 

5. O Tempo Comum é, portanto, um tempo belo e sempre luminoso, centrado na luz da Ressurreição e na força vitamínica do Pão da Vida. Essa beleza e essa luminosidade do Tempo Comum estão sinalizadas pela cor do paramento litúrgico. O verde, que é a cor dominante na Primavera, simboliza a o ressurgimento da natureza após o desterro provocado pela invernia. Tem, por isso, afinidades com o que celebramos na Páscoa: o ressurgimento da vida após a morte. Trata-se do ressurgimento não para a vida anterior, para uma vida totalmente nova.

O verde é, por conseguinte, a cor que está associada à novidade e, nessa medida, à esperança. Ao celebrarmos a Páscoa em cada Domingo, vamos fortalecendo a esperança na última vinda do Senhor Jesus. De resto, é o que ouvimos no «embolismo», isto é, na oração que dá continuidade ao Pai-Nosso. Depois de pedir a Deus a libertação do mal e a paz para os nossos dias, o presidente da celebração, em nome da comunidade, testemunha a nossa esperança «na vinda gloriosa de Jesus Cristo, nosso Salvador».

 

  1. Neste segundo Domingo do Tempo Comum — o primeiro após o ciclo do Advento e do Natal —, encontramos João Baptista a apresentar Jesus. De certa forma, este texto funciona como uma transição entre a Festa do Baptismo do Senhor (que, este ano, celebrámos no dia 09 de Janeiro) e o Tempo Comum. Esta transição funciona como uma espécie de «passagem de testemunho» de João para Jesus. No fundo, estamos perante a decisiva travessia do Antigo para o Novo Testamento.

O Precursor abre, assim, caminho para o Salvador. O baptismo de João era um baptismo de penitência. O baptismo de Jesus é o baptismo no Espírito Santo. O que fez João é o que nós somos convidados a fazer: a dar testemunho de Jesus.

 

D. O Superior que aparece como Servidor

 

7. Descrito como «o Cordeiro de Deus» (Jo 1, 29), Jesus aparece no mundo como Servo. Aliás, a Sua Mãe também Se apresenta como Serva (cf. Lc 1, 38). Ou seja, o Servo nasce da Serva. Não obstante a Sua condição divina, Jesus é o Superior que aparece como Servidor. Nunca é demais insistir que Jesus veio ao mundo para servir, não para Se servir. Ele está no meio de nós como quem serve (cf. Lc 22, 27).

Uma vez que somos Seus discípulos, então como Ele fez, façamos nós também (cf. Jo 13, 15). Procuremos estar na vida não como superiores, mas como servidores: como servidores de Deus e como servidores dos outros homens. E tanto melhor serviremos os outros homens quanto mais os aproximarmos de Deus. Nos tempos que correm, Deus é a grande carência, Deus é a maior urgência.

 

  1. Ser servo, como Jesus é delineado na Primeira Leitura, é abdicar de ter vontade própria. Como todos nós sabemos, o sacrifício que mais custa fazer é, sem dúvida, o sacrifício da vontade. Fazer a nossa vontade é um direito natural. Impor a nossa vontade é uma tentação muito grande. Daí que sacrificar a nossa vontade seja o supremo acto de despojamento. Mas é também o passo decisivo para a felicidade.

É importante, por isso, que o nosso coração não esqueça o que os nossos lábios, há pouco, entoaram: «Eu venho, Senhor, para fazer a Vossa vontade» (cf. Sal 40, 8). Aliás, é o que estamos sempre a repetir quando recitamos a oração que Jesus nos ensinou: «Seja feita a Vossa vontade» (Mt 6, 10). O próprio Jesus, uma vez mais, dá-nos o exemplo. No momento decisivo, pede a Deus que O afaste da Cruz. No entanto, ressalva de imediato: «Faça-se a Tua vontade e não a Minha» (Mt 22, 42).

 

E. Palavra para ouvir e Pão para repartir

 

9. A divina vontade é a nossa felicidade. A divina vontade há-de ser, pois, a nossa prioridade. Aprendamos, por isso, a procurar e a cumprir a vontade de Deus. Não confundamos — o que é uma tentação frequente — a vontade de Deus com os nossos desejos.

Nunca deixemos vazio o nosso lugar na Festa semanal da Páscoa. É Cristo quem nos convida. Vamos deixar que a Sua proposta fique esquecida?

 

  1. Estejamos sempre em estado de missão. A bem dizer, a Missa nunca há-de terminar. Quando a Missa estiver a terminar, a Missão tem de estar a começar. O campo de missão é cada momento e é cada pessoa que vamos encontrando em cada instante. Precisamos de sair de uma certa letargia em que a nossa fé parece estar adormecida.

Vamos prometer que com o Evangelho nos queremos comprometer. O Evangelho é Palavra para ouvir e Pão para repartir. É nele que está a mudança e a razão para a nossa esperança. Este mundo ainda pode mudar se o Evangelho quisermos testemunhar. Não adiemos para amanhã o Evangelho que urge anunciar hoje!

publicado por Theosfera às 05:42

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