Ao entrar, hoje, no cemitério da minha terra natal, havia sol, mas não vi o sol. Não caía chuva, mas chovia. Chovia pranto.
Qualquer coisa tumultuava cá dentro. Estava frio, um frio entremeado pelo calor arfante da saudade.
Só o tom azul do exterior amenizava o breu que se alojava no interior: o breu da dor. Nada disto se explica, tudo isto se sente.
Sei que meu querido Pai, falecido há 21 anos, mora em Deus. Não era preciso, por isso, passar pelo cemitério. Mas a vida é feita de sinais.
E o túmulo é mais um sinal de uma presença que não se apaga, de um amor que não se extingue.
Ali deixei um punhado de flores. Ali depositei uma prece.
Ir a um cemitério não é uma experiência fácil, mas é uma experiência necessária, purificadora.
Meu querido Pai costumava dizer, nos últimos tempos, que faltava pouco para ir para a Senhora da Guia. O cemitério fica mesmo ao lado da capela que Lhe é dedicada.
Há uma atmosfera de dor naquele lugar. De uma dor, porém, ungida pela fé e ornada pela esperança.
Nada disto se explica. Tudo isto se sente!