Há menos episódios de violência, mas a sociedade está mais violenta.
Parece uma contradição, mas é a verdade.
Um é o dado que resulta dos estudos. Outro é o panorama que ressalta da percepção.
Todos achamos que a sociedade está mais violenta porque a violência, além de existir, é exaustivamente mostrada.
A violência até terá menos cultores, mas tem muitos mais espectadores. E isso faz toda a diferença.
Outrora, o homicídio na aldeia era comentado, lamentado e chorado na aldeia. Hoje, o homícidio na aldeia não ocorre na aldeia, ocorre no país.
Que diríamos de uma altercação entre dois grupos rivais numa procissão de que brotaram seis mortos? Ou de uma manifestação sobre a qual se abriu fogo, matando 15 pessoas?
Tudo isto aconteceu entre finais do século XIX e inícios do século XX em locais pequenos.
É claro que uma vida que se tira já é uma tragédia enorme. E o que deveria ser estudado era a possível ligação entre as ocorrências e a sua excessiva exibição.
Será que, em espíritos mais perturbados, certas notícias não poderão acelerar uma predisposição para o pior?
E se todos nós somos espectadores destes tristes fenómenos, não poderemos ser seus opositores?
Se a violência é uma evidência social, pôr-lhe cobro não poderá ser uma responsabilidade colectiva?