- Para sabermos o que se quer dizer com uma palavra, a etimologia é uma ajuda indispensável, mas pode não ser suficiente.
Há palavras polissémicas, isto é, com vários significados. Daí que, muitas vezes, seja necessário ir ao encontro de quem as diz para ficarmos a saber o que se pretendeu dizer.
- Reparemos nesta (breve) frase: «É um estupor». Tanto pode ser uma doença como pode ser um elogio ou até um insulto.
A primeira reacção é depreender que se trata de um insulto.
- Acontece que, etimologicamente, «estupor» vem do latim «stupor», que quer dizer entorpecimento.
Tanto pode referir-se a uma doença (imobilidade) como a um elogio (espanto) ou a um insulto (malcomportado). Quem está mais próximo de quem profere a palavra é quem está em melhores condições de a entender.
- Vem isto a propósito da referência do Evangelho a Maria como Virgem (cf. Mt 1, 23).
Trata-se de uma citação explícita de Isaías: «A Virgem conceberá e dará à luz um Filho, chamado Emanuel» (Is 7, 14).
- No texto original, encontramos o hebraico «almah», que significa «jovem».
É certo que «jovem» não é necessariamente «virgem». Mas também não é impossível que o possa ser. Como saber a intenção do autor?
- Quem viveu mais perto da época em que o texto foi escrito estará em melhores condições de nos fornecer o significado que se dava às palavras que o compõem.
É sabido que os judeus mais eruditos daquele tempo traduziam «almah» por «parthénos», que significa «virgem». Foi o que fizeram os tradutores da Bíblia para o grego, entre os séculos III e I a.C.
- É possível ser mãe e ser virgem? Biologicamente, não é possível. Mas a Deus, nada é impossível (cf. Lc 1, 37).
Como é que Deus consegue que alguém seja mãe e, ao mesmo tempo, seja virgem? Só Ele sabe. Nós não sabemos.
- Acontece que uma das formas de saber é precisamente o não-saber.Ninguém chega a saber alguma coisa se não começar por saber que não sabe.
As perguntas pertencem à razão. Mas há respostas que pertencerão sempre ao mistério.
- É por isso que a fé não é racional, mas razoável. A razão não a explica, mas admite-a.
Isto não deslustra a razão nem apouca a fé. Como notava Pascal, «é um acto de razão reconhecer que há uma infinidade de coisas que a ultrapassam».
- Mas também se não fosse assim, teria o profeta Isaías (7, 14) necessidade de falar de «sinal»?
Uma jovem dar à luz não é «sinal», é a coisa mais natural. Já dar à luz e ser virgem não é natural; é totalmente supranatural. Está somente ao alcance de Deus. E, neste caso, podemos falar de um «sinal», de um (fortíssimo) «sinal»!