1. Até quando persistirá a crise? A partir de quando começará o crescimento?
Mas será que o crescimento é a solução? Há quem pense que a solução não passa pelo crescimento, mas pelo…decrescimento.
2. E, de facto, os que têm pouco teriam mais se os que têm mais se dispusessem a ter um pouco menos. Afinal, muitos cresceriam se alguns aceitassem decrescer.
Mais do que uma obrigação imposta do exterior, este deveria ser um imperativo assumido a partir do interior.
3. Sucede que a impressão que prevalece é outra, diametralmente oposta: os que têm mais continuam a ter muito e os que têm pouco têm cada vez menos, quase nada.
Está, pois, tudo invertido.
4. É neste contexto que Serge Latouche entende que o caminho não é o crescimento, mas o decrescimento.
A tese é controversa, mas merece atenção. A ideologia do crescimento tende a ignorar os limites. A tendência é para gastar sem cálculo e para consumir sem freio.
5. O problema é que os recursos naturais são limitados. Um crescimento infinito será compatível com um mundo finito?
Acresce que o crescimento não produz só bens. Também produz necessidades, muitas delas artificiais. E, não raramente, as necessidades crescem a um ritmo superior aos bens. Daí o estado de insatisfação generalizada.
6. Se repararmos, muitos protestos não vêm dos pobres de sempre. Muita contestação advém dos que não conseguem manter o nível de vida a que se tinham habituado.
Aliás, quando o impulso para consumir cresce, o índice de insatisfação aumenta. Dificilmente se obterá dinheiro bastante para satisfazer todos os apetites.
7. A alternativa proposta por Serge Latouche é «a abundância frugal». Todos terão acesso ao essencial e cada um abdicará, voluntariamente, do acidental.
A estratégia do decrescimento consiste «na autolimitação voluntária, na reabilitação do espírito da doação e da promoção da convivialidade».
8. É claro que tudo isto pressupõe uma mudança que, não sendo irrealizável, se afigura muito difícil: a mudança de mentalidade.
No fundo, ainda estamos à espera de que a realidade se adeque a nós em vez de sermos nós a adequarmo-nos à realidade.
9. A ostentação dispendiosa continua a ser uma forma de afirmação.
A frugalidade, a simplicidade, a poupança, o recato e a partilha deixaram de ser valores dominantes. Passaram a ser atitudes de poucas pessoas e de poucos momentos.
10. Precisamos de fazer todo um caminho por dentro. Precisamos de perceber que a realização pessoal não passa só pelo ter. A felicidade não é esbanjadora.
Precisamos de aprender que, às vezes, com pouco se consegue muito. E que, com menos, não é impossível obter mais. Mais alegria, mais criatividade, mais justiça, mais humanidade!