1. O interminável desfile de lugares-comuns não deixa nada de lado nem ninguém de fora.
Nós, cristãos, também somos afectados.
2. O mal dos lugares-comuns é que, à força da sua repetição, parecem dispensar a reflexão.
Afinal, se tanta gente os repete, é porque devem ser verdadeiros e, por isso, inquestionáveis.
3. Alguns lugares-comuns até serão aceitáveis. Só que podem levar a não olhar para outros dados igualmente credíveis.
Os lugares-comuns até podem conter muita verdade. Mas a parte que lhes falta acaba por fazer muita falta.
4. Ninguém nega que a Igreja tem de inovar. Aliás, Jesus Cristo é a novidade contínua e a renovação total.
Mas que inovação se pode levar ao exterior se o interior permanece cheio de nada e vazio de quase tudo?
5. Se o interior está vazio, como é que poderemos preencher o exterior?
Às vezes, o interior das pessoas assemelha-se ao interior do país: esquecido, abandonado, retalhado.
6. O exterior pode estar cheio, mas não está preenchido. Por vezes, até parece cheio de gente vazia. Urge ajudar a preencher o interior de quem está no exterior.
Edith Stein percebeu o essencial. Para ela, o importante não é vir do interior para o exterior; é ir do interior de mim ao interior do(s) outro(s).
7. É urgente partir.
Mas que pode levar às margens quem nunca esteve no centro, quem nunca percebeu o que é central?
8. Quem está nas margens precisa de saber o que, para nós, é central, prioritário e decisivo.
Para nós, central não podemos ser nós. Central só pode ser Cristo, só pode ser o Evangelho de Cristo.
9. É claro que necessitamos de uma pastoral de inovação, mas não em contraponto com uma pastoral de manutenção.
É óbvio que há muita coisa a inovar. Mas é elementar perceber que há também muita coisa a manter.
10. Acontece que a melhor maneira de manter a doutrina de Cristo é anunciar o Evangelho de Cristo. Se não anunciamos Cristo, como poderemos manter Cristo? Haveria o sério risco de, com o nosso desaparecimento, desaparecer também o que queremos manter.
O que nos foi entregue é para (continuar a) ser dado. O receio não é opção e a desconfiança não é caminho. Afinal, os outros também gostarão de conhecer Aquele que nós (já) encontrámos!