- Há quem diga — Longanesi, por exemplo — que é próprio dos grandes homens não serem compreendidos.
Trata-se, por conseguinte, de uma grandeza trágica.
- Quem é excepcional é quase sempre conhecido, mas raramente é reconhecido.
Tem encontro assegurado com a História e desencontros garantidos ao longo da sua história.
- Poucas figuras terão sido tão incompreendidas como Paulo VI.
Gastou a vida a procurar compreender os outros. E desgastou-se em vida ao ser incompreendido por outros.
- Desencantou os que pretendiam homéricas transformações. E, como é óbvio, não deixou de desapontar os que não toleravam a mais leve alteração.
Tornou-se, assim, demasiado progressista para os conservadores e excessivamente conservador para os progressistas.
- Houve quem lhe apoucasse a profundidade, reduzindo-a a mera hesitação. Não faltou sequer quem lhe apontasse uma indecisão crónica, «hamletiana».
Trata-se, porém, de uma leitura apressada, que esquece a sua inteligência e negligencia o seu carácter.
- Paulo VI sopesava todas as dimensões de um problema e valorizava todos os pontos de vista de uma discussão.
Não era indiferente às mudanças no mundo. Mas foi sempre fiel às exigências da missão.
- Uma coisa é hesitar, outra coisa é amadurecer. Afinal, o que parecia indecisão era maturidade.
Paulo VI não hesitava na decisão; amadurecia a decisão, amadurecia para a decisão.
- Foi o Papa do diálogo (tema aliás da sua primeira encíclica), dos reencontros (o abraço trocado com Atenágoras comoveu o mundo) e das sínteses.
Procurou a confluência entre a tradição e a modernidade e jamais optou entre a verdade e a caridade. Muito antes da eleição papal, orava para que «todas as inteligências se reunissem na verdade e todos os corações se encontrassem na caridade». Não é tarefa fácil, mas Paulo VI não se resignou a considerá-la impossível.
- Nunca decidiu em função da sua sensibilidade pessoal. Daí o seu aspecto sofrido. E daí também o seu ar tranquilo. Para ele, Deus vinha primeiro e a Igreja estava antes. O importante não era a sua vontade, mas o seu dever.
Não terá sido muito aplaudido. Mas nota-se que é cada vez mais respeitado. No fundo e apesar de parecer comedido, até foi bastante ousado, evangelicamente ousado. Lançou as sementes e rasgou horizontes. Mas guardou sempre as raízes. Procurou ver além de si mesmo e agir para lá de si próprio.
- Acresce que Paulo VI foi o primeiro Papa a vir a Fátima. E de Fátima gritou para o mundo: «Homens, sede homens!»
Ainda falta muito para que nós, homens, sejamos autenticamente humanos. Ainda falta muito para que nós, cristãos, sejamos verdadeiramente cristãos. Ainda há muito Evangelho para semear em nós. E para colher à nossa volta!