- O Cristianismo nasceu peregrino e foi crescendo inconformado.
Os primeiros cristãos viam-se não como residentes em qualquer lugar, mas como cidadãos de toda a terra.
- Não se sentindo distantes dos mais próximos, cedo aprenderam a sentir-se próximos dos mais distantes.
Não foram as dificuldades que travaram o seu sonho de levar Cristo ao mundo e de trazer o mundo a Cristo.
- Não procuravam apresentar Cristo segundo os critérios do mundo. Procuravam, antes, construir um mundo segundo os critérios de Cristo.
Tentaram, em suma, evangelizar o mundo sem «mundanizar» o Evangelho.
- Esta ânsia de anunciar o Evangelho ao mundo não impediu, porém, que encontrassem focos de incompreensão no mundo.
Um escrito do século II — «A Carta a Diogneto» — assinala que os cristãos «amam a todos e são perseguidos por todos»; «fazem o bem e são punidos como maus». Enfim, «o mundo odeia os cristãos, que não lhe fazem nenhum mal». É por isso que nem «os que os odeiam sabem dizer a causa do ódio».
- Nenhum obstáculo, porém, os desviou do seu propósito ou amoleceu o seu discurso.
Propunham-se mudar o mundo em nome do Evangelho e não mudar o Evangelho por causa do mundo.
- Quando as perseguições terminaram, o inconformismo manteve-se.
O desafio já não era dar a vida num momento, mas dar a vida a cada instante. No fundo, dar a vida é dar-se na vida. E não só no fim da vida.
- O Cristianismo amava o mundo, não se revia no mundo. Pelo que não lhe bastava a integração no mundo nem a aceitação do mundo.
Foi por isso que não desistiu de corporizar uma verdadeira alternativa ao mundo.
- Aparentemente, os cristãos estavam a afastar-se do mundo.
Não se tratava, contudo, de uma fuga, mas de uma nova presença.
- A opção pelo deserto e a proliferação de mosteiros mostram que houve quem percebesse que o Cristianismo transporta consigo o gérmen da insatisfação.
Só que essa insatisfação não está ausente do mundo. Afinal, o deserto e os mosteiros não estão fora do mundo.
- Eles são a prova de que é possível centrar a vida em Deus e não apenas por alguns dias. Deus é o centro da vida em cada dia.
Daí o encanto. Daí a surpresa. Daí a contínua (pro)vocação!