Aos nossos olhos, o caso pode parecer risível, mas ele acaba por certificar como os grandes homens se vêem em pequenos gestos.
Em meados do século XVI, Lamego teve um bispo vindo de Angra e que fora reitor da Universidade de Coimbra.
Órfão de pai e mãe, passou por tantas necessidades que, para se sustentar, teve de empenhar o próprio Breviário!
Ao chegar a Lamego, em 1540, D. Agostinho Ribeiro (era este o nome do prelado) achou que os bens da diocese eram excessivos e as necessidades dos pobres abundantes.
Por isso, vendeu a mula que o levara a Coimbra e outra mula que o trouxera de Lisboa. O produto era para os pobres.
O rei (D. João III) ofereceu-lhe uma terceira alegando: «Quantas mulas o bispo vender, tantas mulas lhe hei-de mandar; os pobres correm por conta dele e ele por conta do rei»!
Deixou Lamego em 1549 e recolheu-se num convento em Lisboa. Ofereceu tudo aos pobres e pediu que os grandes da corte não o visitassem!
Faleceu a 27 de Março de 1554. Não deixou grande obra física em Lamego. Também quando veio, já tinha alguma idade. Nem sequer estabeleceu a Inquisição, desobedecendo ao rei.
Mas deixou a obra mais bela de todas: o seu amor pelos pobres. Por causa deles até do seu meio de transporte se desfez!