O acontecimento de Deus nos acontecimentos dos homens. A atmosfera é sempre alimentada por uma surpreendente Theosfera.

Domingo, 02 de Setembro de 2018
  1. Neste primeiro Domingo do mês, eis-nos aqui pela quarta vez. À volta de Maria continuamos a «novenar» para em Cristo a nossa fé alimentar. A Novena simboliza a vida como caminho no qual nenhum de nós está sozinho. A Novena é oração, recolhimento e confissão. A Novena torna-se, assim, oportunidade de conversão. É por isso que, para a Festa ser plena, é fundamental participar na Novena. A nossa Mãe e Padroeira (ou «Madroeira») conta com todos os filhos à Sua beira.

O Domingo é sempre um dia especial: é o dia em que celebramos a Páscoa semanal. Nunca é demais insistir: antes de a Páscoa anual surgir, já os cristãos em cada semana se costumavam reunir. Em cada Domingo, ao romper da aurora, saíam estrada fora. Em cada Domingo, a Igreja sempre celebrou a Ressurreição proclamando a Palavra e repartindo o Pão.

 

  1. Assim sendo, o Domingo é um dia de louvor para agradecer a Deus todo o Seu amor. Foi o dia em que ressuscitou Jesus Cristo. Alguma vez agradeceremos devidamente tudo isto? Para todos, este é, pois, um dia de alegria. Mas é-o especialmente para Maria. Esta e outras alegrias de Maria estão contidas no título de Nossa Senhora dos Prazeres. E o maior prazer que Maria experimentou foi, sem dúvida, quando Seu Filho ressuscitou. Ela, que na Cruz tanto sofreu, uma enorme felicidade depois viveu.

Daí que, até 1777, um dos dias anuais da Festa de Nossa Senhora dos Remédios fosse precisamente o dia de Nossa Senhora dos Prazeres que se assinalava na segunda-feira após o II Domingo da Páscoa, igualmente conhecido como «Domingo de Pascoela».

 

  1. O Domingo é, pois, um belo dia para louvar, para bendizer e sobretudo para cantar. Também neste particular, Maria é um modelo a imitar. Afinal, Nossa Senhora mostrou ser uma profunda — e bela — cantora. E o povo, que tão bem canta a Maria, é convidado a cantar sempre como Maria. A proposta é que, em cada dia, cantemos sempre como Maria.

O cântico que Maria entoou por todas as gerações perdurou. É um cântico centrado em Deus, como deviam ser todos os cânticos dos filhos Seus. Se (como notou Aristóteles) a música à vida dá encanto, a música para Deus faz-nos perceber ainda mais como Ele é belo, como Ele é santo.

 

  1. O cântico de Maria é conhecido pelo nome de «Magnificat». Trata-se da terceira pessoa do presente do indicativo do verbo latino «magnificare», que significa «fazer grande», «engrandecer». E, de facto, Maria «engrandece» — isto é, reconhece como «grande» — o que Deus fez na Sua vida. Este reconhecimento da grandeza do que Deus realizou inunda de alegria o coração de Maria. Por isso Ela louva o Senhor e exulta de alegria em Deus Salvador (cf. Lc 1, 46).

E qual foi a realização de Deus que fez «explodir» de alegria os lábios de Maria? Foi, antes de mais, o facto de o «Todo-Poderoso» com Maria Se mostrar tão generoso. Deus «pôs os olhos na humildade da Sua Serva» (cf. Lc 1, 48). Maria percebeu que Deus é perito em mudar a história, olhando para os humildes com ternura e misericórdia. Deus engrandece os que são pequenos e, muitas vezes, «empequenece» os (que se consideram) grandes. É, sem dúvida, extraordinário como Deus vê tudo ao contrário. Daí que Maria exulte, compondo este cântico «revolucionário».

 

  1. Não falta quem diga que estamos em presença do mais belo poema de todos os tempos. Sophia de Mello Breyner não teve dúvidas em apontar o «Magnificat» como «o mais belo poema que existe». Porquê? Basicamente, porque «anuncia um mundo novo».

Trata-se de um mundo que traz os de baixo para cima e os de cima para baixo. Trata-se de um mundo que coloca os que estão nas periferias no centro, colocando os que estão no centro nas periferias. Trata-se de um mundo que transforma os últimos em primeiros e os primeiros em últimos. Haverá «revolução» maior»? Haverá «revolução» igual?

 

  1. Maria canta as maravilhas que o «Todo-Poderoso» — que, na verdade, é «Todo-Amoroso» — realiza na Sua vida e na vida do mundo. É em nome do Seu poder amoroso — e do Seu amor poderoso — que Deus dispersa os soberbos, derruba os poderosos e deixa os ricos de mãos vazias (cf. Lc 1, 51-53). E é também esse poder amoroso — e esse amor poderoso — que fazem com que Deus exalte os humildes e encha de bens os que têm fome (cf. Lc 1, 52-53).

Deus quer operar esta «revolução» através de nós. E, como Maria percebeu, os que têm menos só podem ter mais se os que têm mais se dispuserem a ter menos. Estaremos dispostos a participar nesta divina «revolução»?

 

  1. É perfeitamente notório que este é o cântico de alguém encantado, de alguém completamente apaixonado. Em cada palavra que diz, vê-se bem que Maria está feliz. E, como reparou São João da Cruz, é perceptível como Maria está apaixonada por Deus. À semelhança de todos os apaixonados, também Maria canta, também Maria encanta.

Aliás, ao longo dos séculos foram muitas as vidas que este cântico mudou porque foram muitos os corações que este cântico encantou. Paul Claudel confessa que foi ao ouvir este cântico que se desencadeou a sua conversão. Ao entrar na igreja de Notre-Dame, quando o «Magnificat» era entoado, o seu coração comoveu-se «como nunca». A partir de então começou a «acreditar por dentro e com todas as forças»!

 

  1. Maria, mulher eminentemente contemplativa, mostra-se aqui uma mulher bastante comprometida. Salta à vista que Maria é saudavelmente inconformista. Sem qualquer hesitação, este cântico poderia ser classificado como sendo de intervenção. Maria a Deus dá glória pelas transformações que opera na história.

Daí que não falte quem qualifique o «Magnificat» de Maria como «um cântico de rebeldia». Ela mostra que Deus não é imparcial. Ela revela que Deus toma partido por aqueles que passam mal. Se Deus é diferente, algum de nós pode continuar indiferente?

 

  1. Para Maria, a fé é o mais importante, mas nunca como um tranquilizante. Para Maria, a fé tem como função despertar-nos e não anestesiar-nos. A paz da fé não é a paz da mera satisfação; a paz de Deus é a paz da permanente inquietação. Ninguém pode estar acomodado enquanto a justiça e a paz não chegarem e todo o lado.

Eis como nós devemos cantar: louvando a acção de Deus dispondo-nos a nela participar. O cântico dos lábios há-de ser a expressão do cântico da vida. Cantamos melhor com os lábios quando o cântico que chega aos lábios nasce da alma e se derrama na vida.

 

  1. Assim sendo, em cada dia, não nos cansemos de cantar como Maria. Coloquemos o cântico de Maria nos nossos lábios e, ainda mais, na nossa vida. Cantemos com a nossa voz e não paremos de cantar com quem está ao pé de nós. Façamos da nossa vida um cântico de louvor, um cântico de gratidão e também um cântico de compromisso com a vida do nosso irmão.

São belos os cânticos que aqui cantamos. São belos os cânticos que daqui levamos. Esses cânticos são para na nossa vida ressoar. Que Nossa Senhora dos Remédios transforme a nossa romaria numa formosa — e interminável — melodia!

publicado por Theosfera às 08:00

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