- É certo que não podemos branquear o mal. Mas será correcto esquecer tão ostensivamente o bem?
Dizem que o positivo não vende e que só o negativo rende.
- «A boa notícia não é notícia».
Eis uma sentença que também parece contaminar alguns sectores da nossa Igreja.
- Por vezes, dá a impressão de que decalcamos o temperamento depressivo que o Padre Manuel Antunes reconhecia nos portugueses.
De facto, também em nós, cristãos, «o negativo prevalece sobre o positivo, os defeitos sobre as qualidades e os defeitos das nossas qualidades sobre as qualidades dos nossos defeitos».
- Com tanta predisposição para publicitar as suas fraquezas, até parece que na Igreja nada há de positivo.
Acontece que isto, além de não ser justo, está longe de ser verdadeiro.
- Mas o mais intrigante é que estas notícias e opiniões não vêm apenas de fora.
Muitas vezes é de dentro que surgem palavras de censura, que rapidamente encontram altos índices de aprovação.
- Esta situação contribui para criar um ambiente «eclesiodepressivo» e uma mentalidade «eclesiofóbica».
Parafraseando uma conhecida máxima, dir-se-ia que, acerca da Igreja, só o mal — não o bem — cá para fora vem.
- Porque é que — sem vaidade, mas também sem vergonha — não acendemos as luzes, que excedem em muito as sombras?
Será proibido falar bem da Igreja? Será que a única forma de «debater» a Igreja é «bater» na Igreja?
- Porque é que havemos de ocultar aquilo que o mundo deve à Igreja?
Como apurou o reputado académico Thomas Woods, foi a Igreja que introduziu as bases do sistema universitário e do direito internacional. E que pensar da rede mundial de assistência aos mais pobres que a Igreja continua a assegurar?
- A moldura da Europa foi desenhada sobretudo a partir dos mosteiros.
Réginald Grégoire, Léo Moulin e Raymond Oursel certificam fartamente como os monges ao fervor espiritual aliaram sempre um forte progresso civilizacional. Foram eles que lançaram centros de ensino, redes de fábricas e até métodos de criação de gado.
- Enquanto «tangibilidade histórica da presença de Deus» (Karl Rahner), a Igreja é portadora de um legado muito belo, que nos devia encher de alegria e inundar de gratidão.
As suas falhas são o preço que ela paga por não excluir ninguém. Como bem percebeu Henri de Lubac, a Igreja «não é uma academia de sábios nem uma assembleia de super-homens». Pelo contrário, «os miseráveis de toda a espécie têm cabimento na Igreja». Não são eles os que mais precisam dela?