- A Páscoa começa por ser um mistério de fragilidade. De uma fragilidade inteiramente assumida, francamente exposta e abertamente oferecida. Quando Se apresenta pronto para sofrer a morte, Jesus não esconde que «a carne é fraca» (Mt 27, 41).
A fragilidade é reveladora e é solidária. As pessoas são mais autênticas quando não escondem a sua fragilidade. Tony Blair percebeu isto quando escreveu que «ser humano é ser frágil».
- Jesus não fez exibições de força. A Sua maior força radicou na Sua capacidade de assumir a fraqueza. Os fortes podem ganhar batalhas. Mas são os frágeis que obtêm a maior vitória: a do amor.
Os fortes são vistos como vencedores porque eliminam os outros, porque se sobrepõem aos outros.
- Os frágeis são apontados como vencidos porque se esquecem de si, porque vivem em função dos outros.
Mas não é nesta fragilidade que reside a nossa salvação? Não é, portanto, nesta fragilidade que está a maior força? Os fortes vão destruindo vidas. Os frágeis são os que se sacrificam para que outros tenham vida.
- No fundo, Jesus foi entregue por inveja (cf. Mt 27, 18). Pilatos até fez tudo para O poupar. Só que as pressões do poder religioso, as ameaças de denúncia em Roma e a pressão de uma multidão ligada aos funcionários do Templo ditaram o veredicto.
Pilatos nada tinha contra Jesus, mas entre a defesa de um inocente e a preservação do seu lugar, a opção foi óbvia. A «oclocracia» é a coisa mais volátil que existe. As multidões dão para tudo e para o seu contrário. Variam tão rapidamente como o vento.
- Esta é uma semana que reclama, sobretudo, interioridade, recolhimento. Há uma densidade muito grande e um apelo muito fundo que nenhuma palavra conseguirá descrever.
O que nos é oferecido não pertence ao enigma, mas pertence ao mistério. Isto significa que o quadro que nos surge não é inatingível, mas também não é manipulável.
- O Cristianismo deve ser a única religião em que o Fundador é um mártir e morre como um abandonado.
A Sua proximidade com Deus não impede que experimente toda a amargura do drama humano.
- Divino, a partir de Cristo, não é, pois, a distância ontologicamente intransponível entre Deus e o Homem.
Divina é esta humanidade sem freio, é esta franqueza sem constrangimentos, é este amor sem vacilação, é esta entrega sem limites.
- Não é quando nos distanciamos do humano que nos aproximamos de Deus. É quando aterramos na sua maior profundidade que tocamos o divino.
Para Deus sobe-se descendo. Foi das profundidades da terra que Jesus irrompeu para Deus.
- O humano tão puramente humano de Jesus é uma respiração divina, um enclave da eternidade pelas inclementes estradas do tempo.
O desfecho de toda esta meditação não pode ser apenas o anúncio. A Páscoa não é só para proclamar. É, acima de tudo, uma oportunidade para melhor viver.
- Há um convite que fica. O caminho de Jesus não é tanto para ser explicado. É, sem dúvida, para ser conhecido. E é tão fascinante conhecer Jesus. O mais aliciante, contudo, é procurar viver.
Jesus é uma lição sem fim. Lição que não vem de qualquer cátedra, mas que tem a argamassa de uma vida tão humanamente cheia. Haverá algo mais divino que esta humanidade de Jesus?