Até o jornalista se espanta com o cenário.
«Cá fora, filas de turistas em trânsito e um engarrafamento com táxis e "tuk tuks". Lá dentro, guias com bandeiras conduzem dezenas de visitantes apontando para pinturas e castiçais, capelas e túmulos. Ouve-se falar em várias línguas e o ambiente assemelha-se ao de uma estação de comboios. Recolhimento é coisa que ali parece inteiramente impossível».
O repórter não está a falar de um espaço qualquer. Está a falar de um espaço sagrado, no caso a Sé de Lisboa.
Olhando para o que se passa numa tarde de Verão, «é difícil imaginá-la como uma igreja aberta ao culto, onde ainda se celebram baptizados e casamentos e há festa no Natal e na Páscoa». No Natal e na Páscoa, e não só.
Eis uma situação que importa reflectir e urge inflectir.
A recuperação patrimonial dos espaços sagrados tem de ser acompanhada por uma séria recuperação da sua identidade espiritual.
Ou será que vai ser preciso colocar um cartaz à porta das igrejas lembrando: «Aqui "também" se reza»? Também?
Porque, pelos vistos, os templos parecem servir para tudo menos para aquilo para que foram construídos!