- Na «era dos extremos» (Eric Hobsbawm), estamos a assistir ao excruciante combate entre um fundamentalismo e um fanatismo.
Em campos opostos encontramos um «fundamentalismo religioso» (que quase todos denunciam) e um «fanatismo anti-religioso» (em que praticamente ninguém repara).
- Os dois querelam, permanentemente, no espírito humano e no espaço público.
De um lado há quem imponha determinadas concepções de Deus. Do outro lado não falta quem implante uma completa ausência de Deus.
- Há locais onde os sinais religiosos surgem em toda a parte. E há lugares onde a menor referência espiritual é repelida a todo o custo.
Os regimes «teocráticos» convivem, deste modo, com comportamentos cada vez mais «teofóbicos». Ambos conflituam, flagrantemente, com a liberdade.
- É óbvio que a presença de Deus não pode ser forçada. Mas será que a Sua ausência deverá ser imposta?
Ninguém pode obrigar alguém a ter fé. Mas será legítimo impedir quem quer que seja de assumir a fé que possa ter?
- Todos aceitamos que, numa sociedade livre, os cidadãos podem manifestar publicamente as suas opções políticas, culturais e desportivas.
Porque é que os mesmos cidadãos não hão-de poder manifestar publicamente a sua vivência religiosa? Será que, no espaço público, temos todos de nos comportar de uma maneira não-religiosa?
- De facto, há quem se incomode com actos religiosos em âmbitos não especificamente religiosos.
Mas parece que poucos se preocupam com atitudes claramente não religiosas em ambientes religiosos.
- É cada vez mais frequente conversar, telefonar, beber e até fumar nas igrejas.
Em muitos templos, é mais fácil ver um telemóvel do que um terço nas mãos das pessoas.
- Para muitos, a fé é um assunto meramente privado, do foro íntimo. Paradoxalmente, esta restrição é determinada em nome da liberdade, da liberdade de não ser perturbado.
E a liberdade de intervir? A liberdade constrói-se não abafando o diferente, mas aceitando as diferenças.
- Que oportunidade estamos dispostos a dar ao discurso crente em debates sobre temas como a eutanásia, o aborto ou a justiça social?
Somos todos livres. Mas, na hora que passa, parece que uns são mais livres que outros.
- Num tempo de «filias» e «fobias», muitos dão sinal de estar afectados por uma estranha «teofobia».
Nesta época crescentemente «teofóbica», quem se disporá a ser coerentemente «teófilo»? Onde estão os «amigos de Deus»?