- Fé e religião são seguramente confinantes. Mas nem sempre serão mutuamente convertíveis.
Há quem opte por uma fé longe da religião. E haverá quem persista numa religiosidade longe da fé.
- Há quem se considere crente sem dar sinais de ser religioso.
E não faltará quem se considere religioso sem dar sinais de ser crente.
- Nem toda a pertença é garantia de crença. E nem toda a crença será garantia de pertença.
É difícil tipificar as situações de «pertença sem crença». Mas é inquestionável que os casos de «crença sem pertença» estão a aumentar.
- O desencanto pelas religiões é um dado a ter em conta.
E a tendência para a «individualização do crer», de que fala Marcel Gauchet, é outro factor a ter em mente.
- Neste contexto, como enquadrar os «cristãos sem Cristianismo»?
Já houve quem, como Dietrich Bonhoeffer, intentasse uma «interpretação não-religiosa» do Cristianismo. E Marcel Gauchet foi ao ponto de o apresentar como «a religião da saída da religião».
- Para muitos, seguir Jesus Cristo não passa necessariamente pelo Cristianismo. Aliás, há até os que, na linha de Gandhi, diferenciam Cristo do Cristianismo.
É frequente encontrar quem pretenda validar uma conduta cristã à margem da religião cristã.
- Edward Schillebeeckx sinalizou a emergência de um «Cristianismo implícito».
De facto, há pessoas que, não professando a fé cristã, adoptam os valores por ela veiculados.
- É uma visão aparentada com a conhecida — e muito discutida — tese do «Cristianismo anónimo», de Karl Rahner.
Outras tradições religiosas podem acolher, segundo Xavier Zubiri, uma espécie de «Cristianismo germinal».
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Cristo está presente na vida dos cristãos. Mas não está ausente da vida dos outros crentes. E nem sequer está distante da vida de quem não é crente.
Basta reparar na resposta que Oskar Pfiser deu a Sigmund Freud quando este lhe perguntou se um cristão podia conviver com um ateu: «Quando penso que o senhor é muito melhor do que a sua falta de fé e que eu sou muito pior do que a minha fé, o abismo entre nós não pode ser assim tão terrível».
- Conhecer a mensagem é fundamental. Vivê-la é decisivo.
E se Jesus censura o comportamento dos que dizem e não fazem (cf. Mt 23, 3), como não há-de aplaudir a atitude dos que fazem, embora não o digam?