O acontecimento de Deus nos acontecimentos dos homens. A atmosfera é sempre alimentada por uma surpreendente Theosfera.

Terça-feira, 25 de Dezembro de 2018

A. Eis-nos no dia tão sonhado, no dia tão esperado



  1. Eis-nos, finalmente, chegados ao dia tão sonhado, ao dia tão esperado; ao dia tão sentido, ao dia tão querido. Eis-nos, finalmente, chegados ao «dia inicial inteiro e limpo». Eis-nos, finalmente, chegados ao dia de Natal. Não ao Natal das pressas e das prendas; não ao Natal das correrias e das gritarias; não ao Natal das promoções e das agitações. Eis-nos, finalmente, chegados ao Natal de Jesus e ao nosso Natal com Jesus.

Sim, porque só há Natal no mundo a partir deste mistério profundo. Só há Natal no homem a partir do Deus que Se faz homem. Só há Natal na história quando deste mistério fazemos memória. O Natal só tem luz quando nele celebramos Jesus. É Ele, Jesus, que enche de brilho o meu, o teu, o nosso Natal.



  1. Não nos resignemos, por isso, a uma espécie de «peri-Natal». Não nos limitemos a andar na órbita do Natal, à volta do Natal. Procuramos entrar em cheio no mistério do Natal. E o Natal não é nada sem Jesus. Mas o Natal pode ser tudo se nele estivermos centrados em Jesus.

Compreendamos isto: só há Natal em Cristo. Aliás, como bradava São Macário, «ai da vida em que não habita Cristo». É que — assim poetava Moreira das Neves — «promessas do mundo inteiro são apenas ilusão». Não haverá Natal verdadeiro «sem Cristo no coração».




B. É urgente «renatalizar» o Natal



  1. É preciso «renatalizar» o Natal; é urgente parar de «desnatalizar» o Natal. O tempo avança e tanto frenesim até já cansa. Nesta hora, quem não está cansado das intragáveis promoções de Natal? Das formatadas prendas de Natal? Das ruidosas festas de Natal? Das intermináveis ceias de Natal? E da sufocante máscara do Pai Natal?

Tão solicitados somos nesta altura. E todos os «rituais» somos obrigados a cumprir para não fazer má figura. Sentimos falta de mais calma na nossa alma. Conseguiremos saborear o Natal no meio de tantos simulacros de Natal? Uns dizem que o Natal está a chegar por haver música no ar. Outros garantem o Natal com falinhas mansas promovendo toneladas de brinquedos para as crianças.



  1. O Natal poderá passar por tudo isto se não for desligado de Cristo. Mas o Natal não estará presente em nada disto se nos mantivermos longe de Jesus Cristo. Às vezes, parece que nos contentamos com um «peri-Natal». Andamos à volta do Natal, mas não chegamos a entrar no Natal. Já nem no Natal não haverá lugar para o Natal? Se não há lugar para Jesus, poderemos falar de Natal?

Nunca é demais insistir. O Natal existe para celebrar o nascimento de Jesus. O Natal nasceu com esta finalidade. Há, pois, que «renatalizar» o Natal, recentrando-o em Jesus.


C. É tempo de «descarnavalizar» o Natal



  1. É tempo de superar a crescente «carnavalização» do Natal. Não festejemos o Natal em modo Carnaval, usando como padrão a intrusa «máscara» do Pai Natal. Vistamo-nos de Jesus. É Ele que enche o Natal de luz.

Apesar de muito se falar do «espírito de Natal», temos uma grande dificuldade em mergulhar no «Espírito» e em perceber o «Natal». É hora de deixar de «piratear» o sentido do Natal. Só Jesus dá sentido ao Natal. Só Jesus enche de encanto o nosso Natal. Só Jesus humaniza e fraterniza a celebração do Natal.



  1. Hoje em dia, Nem no Natal serenamos. Até no Natal corremos e nos agitamos. Nem sequer reparamos que o Natal começa por dentro, pelo interior. O Menino que nasceu em Belém veio do interior do Pai. São João usa a palavra «kólpos», que significa «seio»: «O Filho Unigénito, que está no “seio” do Pai, é que O deu a conhecer» (Jo 1, 18). Eis a perene lição do mistério da Encarnação: Deus não Se fica pelo interior, mas vem a partir do Seu interior. É a partir do interior que tudo (re)começa.

Numa época em que tanto costumamos sair, saiamos também para onde não temos estado: «saiamos» também para dentro. É um paradoxo, mas é sobretudo uma urgência. Um acréscimo de vida interior perfumará — com tintas de paz e cores de esperança — este nosso sobressaltado mundo exterior.


D. Uma festa de interioridade para toda a humanidade



  1. O Natal é, essencialmente, a festa da interioridade. É por isso que o Natal deve ser celebrado com alegria, sem dúvida, mas com uma alegria ungida com recato, temperança, comedimento e muita solidariedade. Foi a partir da Sua interioridade que Deus veio ao encontro de toda a humanidade. Com a simplicidade de Jesus em Belém, aprendamos o valor da doação também. Meditemos neste grande mistério de humildade que nos inunda de paz e felicidade.

É grande a maravilha que neste mundo brilha: o mais distante tornou-se o mais próximo. Sophia tem mesmo razão: «A casa de Deus está assente no chão». Deus está aqui: em mim e em ti. Em Cristo, Deus está em nós: escutemos, pois, a Sua voz.



  1. Não nos cansemos de fixar o olhar no presépio. Aquele Menino é tão santo que só consegue provocar encanto. É tão cheio de mansidão que os nossos joelhos caem logo em adoração. O Seu rosto destila tanta pureza que até os antípodas aspiram o perfume da Sua beleza. Enfim, a Sua imagem desperta tal ternura que nem há palavras para descrever tamanha formosura.

O Menino está ali. Mas eu sinto-O sobretudo aqui. Vejo Jesus agora e não deixo de O rever lá fora. Ele está na rua, na minha história e também na sua. Está no sofredor, naquele que estende a mão e mendiga amor. Está no pobre, no que não tem pão. Está em quantos vão penando na solidão. O Seu tempo nunca é distante pois a Sua presença é constante. O Seu lugar não é só em Belém, é na nossa vida também.


E. Tanta profundidade em tão grande simplicidade



  1. Deus, que habita no alto, vem visitar-nos cá em baixo. É, pois, para baixo que devemos olhar. É a partir de baixo que Deus nos olha. Deus não olha para nós, sobranceiramente, de cima para baixo. Deus olha para nós — divinamente — de baixo para cima. E é lá em baixo que continua à nossa espera: lá, nas profundidades da existência, onde a pobreza abunda, onde a injustiça avança, onde a solidão e o abandono não param de crescer.

Eis a lição de Belém. O silêncio de Deus, que falou em Belém, continua a clamar nos pobres também. Quem não os ouve a eles, como pode dizer que O escuta a Ele?



  1. É no sobretudo nos pobres que devemos pensar. É sobretudo para os pobres que devemos agir. A propósito, partilho convosco uma prece que a minha querida Mãe costuma repetir. São palavras simples, mas muito sentidas, muito comovidas e, por isso, muito belas. Ei-las: «Ó meu Menino Jesus/que nasceste em Belém;/abençoa as criancinhas que vivem pelo mundo além./Sem paz, sem saúde,/sem carinho de ninguém;/quero amar-Vos nesta vida/e, depois, no Céu. Amém»! Tanta profundidade jaz nesta simplicidade. De facto, quem Jesus ama agora por Ele será amado pela eternidade fora.

Que o Deus-Menino de Belém — que no mundo acende a paz e o bem — encha de alegria o vosso coração também. Que Aquele que recebeu os pastores alivie as vossas dores. E que o encanto de Belém — de uma beleza sem igual — vos conceda a todos um santo e feliz Natal!

publicado por Theosfera às 05:03

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