- Dizem que, com a modernidade, o mundo trocou de centralidade. No lugar de Deus, foi colocado o homem.
Muitos deixaram de reconhecer Deus como o fundamento da existência. E passaram a apontar o homem como a medida de tudo.
- A pretensão do homem era que a sua vida deixasse de andar à volta de Deus para andar à volta de si próprio.
Mas será que, com Deus, não há autonomia? E será que, sem Deus, não acabará por haver submissão?
- A autonomia não é ausência de relação; é respeito pela identidade dentro da relação.
A centralidade de Deus não menoriza o homem. Pelo contrário, clarifica o sentido da vida do homem. Em Deus, o homem não perde autonomia; (re)encontra direcção.
- Será que uma «autonomia teónoma» (centrada em Deus) não é mais humanizadora que uma «autonomia egónoma» (meramente centrada no eu)?
Quando nos centramos em Deus, os outros surgem-nos como irmãos. Quando nos centramos em nós, os outros tendem a ser vistos como rivais.
- Acresce que, longe de Deus, o homem não se liberta; submete-se.
A sua estrutural incompletude expõe-o a todo o tipo de sujeições e tutelas.
- A revolução industrial começou por levar o homem a dominar a máquina.
A presente revolução tecnológica tem levado a máquina a dominar o homem.
- No fundo, o homem não trocou Deus por si mesmo; trocou Deus pela máquina.
A «maquinolatria» é a «religião» destes tempos pós-modernos. E os centros comerciais despontam como as novas «catedrais».
- Sem nos apercebermos, passamos a ser controlados por aquilo que criamos.
A máquina está a condicionar os nossos passos, a definir as nossas prioridades e a padronizar os nossos comportamentos.
- Hoje por hoje, sentimo-nos totalmente afectados pela «tecnodependência» e por uma espécie de «ciberpatologia».
E é assim que, imaginando-nos autónomos, comportamo-nos crescentemente como autómatos. Os nossos movimentos são cada vez menos decididos por nós e cada vez mais determinados pela máquina.
- A máquina aditivou-se completamente ao nosso ser. Já não passamos sem ela. É ela que nos comanda e (des)orienta. Desta vez, põe-nos a «caçar pokémons». E nós, sem saber porquê ou para que, nem hesitamos.
Afinal, o real já cansa. Mas será esta irrealidade que vai preencher as nossas ânsias e encher a nossa alma?