- Como insinuou Fausto Guedes Teixeira, foi mesmo Nossa Senhora dos Remédios quem veio a Fátima. Na verdade, foi Nossa Senhora que veio a Fátima com os Seus Remédios, com os Seus três grandes Remédios: a oração, a penitência e a conversão. Até iconograficamente podemos conferir a profunda afinidade entre estas duas invocações.
Fixemo-nos no rosto da imagem que está na Capelinha das Aparições e no rosto da imagem que, em Lamego, sai nas procissões. Não é preciso grande esforço para colher algumas semelhanças e para vislumbrar traços comuns. Não admira. Elas têm uma única proveniência. Ambas foram esculpidas na Casa Fânzeres, de Braga.
- A imagem de Nossa Senhora dos Remédios é de 1904 e a de Nossa Senhora de Fátima é de 1920. O autor não foi seguramente o mesmo. José Ferreira Thedim, que esculpiu a imagem de Nossa Senhora de Fátima, tinha apenas 12 anos em 1904. Nunca se soube ao certo quem esculturou a imagem de Nossa Senhora dos Remédios. Muitos anos depois, foi dito que teria sido um artista cujo sobrenome era Marçal.
É possível, porém, que a inspiração de ambas as obras tenha sido haurida nas mesmas correntes artísticas. Até a altura é praticamente igual: 1,30m no caso da Senhora dos Remédios e 1,37m no caso de Nossa Senhora de Fátima. As duas imagens foram oferecidas: a de Nossa Senhora dos Remédios por Maximiano da Costa Cardoso (a residir no Porto) e a de Nossa Senhora de Fátima por Gilberto Fernandes dos Santos (de Torres Novas).
- Este enlace entre Fátima e os Remédios leva-nos a pensar, como foi dito, nos três grandes Remédios de Fátima: a oração, a penitência e a conversão. É esta a «medicação» que há-de «curar» o nosso (humano) coração. Refira-se que Deus começou a preparar, com a devida antecedência, a vinda de Sua Mãe à terra portuguesa. Não foram só as aparições do Anjo em 1916.
Em 1915, já houve uma — digamos — «pré-aparição». Pouca gente sabe, mas, nesse ano, Lúcia viu, por três vezes, uma «nuvem mais branca que a neve, algo transparente, com forma humana». Sintomaticamente, classifica essa nuvem como sendo também «mais brilhante que o sol». É o que ela conta nas suas memórias, escritas a partir de 1937. Esta «pré-aparição» foi presenciada na companhia de outras três pastorinhas: não Francisco e Jacinta, mas Maria Rosa Matias, Teresa Matias (irmãs) e Maria Justino.
- Seria Nossa Senhora? Seria um Anjo? Nas suas «Memórias» de 1937, a Irmã Lúcia faz a descrição: «Mal tínhamos começado a rezar o Terço, vemos, diante de nossos olhos, como que suspensa no ar, sobre o arvoredo, uma figura como se fosse uma estátua de neve que os raios de sol tornavam algo transparente.
“Que é aquilo”? – perguntaram as minhas companheiras, meias assustadas. “Não sei”! Continuámos a nossa reza, sempre com os olhos fitos na dita figura que, assim que terminámos, desapareceu».
- A mãe da Irmã Lúcia, ouvira, no ano anterior ao das Aparições, a filha e outras dizerem que tinham visto, noutro lugar, uma «pessoa embrulhada num lençol». Mas não fez caso de tais palavras. Acompanhemos, então, a descrição da principal vidente: «Subimos, com os nossos rebanhos, até quase ao cimo do Monte do Cabeço. Um pouco mais ou menos pelo meio-dia, comemos a nossa merenda e, depois dela, convidei as minhas companheiras para rezarem comigo o Terço, ao que elas anuíram com gosto. Mal tínhamos começado, quando, diante dos nossos olhos, vemos, como que suspensa no ar, sobre o arvoredo, uma figura como se fosse uma estátua de neve que os raios do sol tornavam algo transparente».
Acrescenta que o facto se deu mais duas vezes. Nas suas «Memórias» de 1941, a Irmã Lúcia afirma tratar-se do Anjo: «Pelo que posso mais ou menos calcular, parece-me que se deu essa aparição do que julgo ser o Anjo, que não ousou, por então, manifestar-se de todo. Pelo aspecto do tempo, penso que se deveram dar nos meses de Abril até Outubro de 1915».
- «Na encosta do cabeço que fica voltada para o sul, ao tempo de rezar o terço, na companhia de três companheiras, de nome Teresa Matias, Maria Rosa Matias, sua irmã, e Maria Justino, do lugar da Casa Velha, vi que sobre o arvoredo do vale que se estendia a nossos pés, pairava uma como que nuvem, mais branca que neve, algo transparente, com forma humana. As minhas companheiras perguntaram-me o que era. Respondi que não sabia. Em dias diferentes, repetiu-se mais duas vezes».
«Esta aparição deixou-me no espírito uma certa impressão que não sei explicar. Pouco e pouco, essa impressão ia-se desvanecendo; e creio que, se não são os factos que se lhe seguiram, com o tempo a viria a esquecer por completo».
- Nos «Apelos da Mensagem de Fátima», ultimados em 1997 e editados, no ano 2000, a Irmã Lúcia dá mais alguns esclarecimentos sobre este assunto. Levanta até a hipótese de tais manifestações poderem ter sido em 1914. Diz a pastorinha: «Devia ser pelos anos 1914 e 1915, logo que comecei a pastorear o pequeno rebanho pertencente a meus pais, porque eu andava entretida na humilde vida pastoril e na companhia de outras meninas da terra, quando fomos surpreendidas por uma aparição que não soubemos definir».
«Encontrando-nos na encosta do chamado Monte do Cabeço, vimos como se fosse uma nuvenzinha branca com forma humana, que tinha descido do firmamento e lentamente passava na nossa frente, sobre a copa do arvoredo que se estendia pelo vale a nossos pés, como que querendo atrair a nossa atenção e fascinar o nosso olhar».
- E acrescenta Lúcia: «Algumas das meninas presentes contaram em casa aos pais o que tinham visto, enquanto eu guardei silêncio, limitando-me a confirmar o caso, quando era interrogada. Muitas perguntas me têm sido feitas sobre esta aparição (…). Ainda hoje, respondo como então: Não sei o que era nem o que significava. Mas uma convicção íntima me ficou na alma e não quero ocultá-la: ela fez-me crer que fosse o Anjo da Guarda».
«Talvez desta forma, sem falar, ele tenha querido fazer sentir a sua presença e preparar assim as almas para a realização dos desígnios de Deus. Até agora não tenho querido falar destas aparições, mais do que o indispensável, para responder a algumas perguntas. Hoje, porém, faço-o, não para vos certificar se foram ou não do Anjo da Guarda, mas para vos dizer que é certa a existência dos Anjos da Guarda, que foram criados por Deus para O servir, adorar, louvar e amar».
- No opúsculo «Como vejo a Mensagem» — publicado já postumamente, em 2006 —, a Irmã Lúcia escreveu: «Iniciou Deus a preparação dos instrumentos que escolheu, quando eles, despreocupados, rezavam e brincavam, fazendo passar na sua frente, suave e lentamente, como se fora uma nuvenzinha branca de neve, mais brilhante que o sol, com figura humana, que houvesse descido desprendendo-se do firmamento, atraindo-lhes o olhar e chamando-lhes a atenção».
«”Que é aquilo?”, interrogavam-se entre si as pobres crianças: “Não sei”. E, com certeza, ainda hoje não sei, mas os acontecimentos que se lhe seguiram levam-me a crer que seria o nosso Anjo da Guarda que, sem se manifestar claramente, nos ia preparando para a realização dos planos de Deus».
- Como não ficar espantado com tanta maturidade? A atenção aos planos de Deus é o objectivo de toda a nossa existência. São muitos os sinais de tais planos. Os pastorinhos foram preparados para ser como que os «embaixadores» dos celestiais primores: do primor da presença e do primor da mensagem.
Esta presença e esta mensagem são os grandes Remédios para a nossa debilidade. Que sejam também remédio para nutrir a nossa fidelidade!