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Domingo, 24 de Julho de 2016

A. Orar sim, mas não de qualquer maneira

  1. Depois de, no passado Domingo, termos sido catequizados sobre a prioridade da oração, eis que, neste Domingo, somos belamente instruídos acerca do modo de orar. Orar é importante, mas não se deve orar de qualquer maneira.

Jesus é também o mestre da oração e o modelo do orante. Este texto, a abrir o capítulo 11 do Evangelho de São Lucas, apresenta-nos «Jesus em oração» (Lc 11, 1). A oração de Jesus mexeu de tal maneira com os Seus discípulos que um deles Lhe pediu para os ensinar a orar: «Senhor, ensina-nos a orar» (Lc 11, 1).

 

  1. O primeiro passo tem de ser este: aprender a orar pedindo a Jesus que nos ensine a orar. De resto, São Paulo põe-nos de sobreaviso ao dizer que não sabemos orar como convém (cf. Rom 8, 26). O nosso problema é orar à nossa maneira. O nosso mal é orar de forma intermitente. A nossa deficiência é ficar pela oração de petição e descurar a oração de louvor e de disponibilidade.

Por conseguinte, antes de rezar, aprendamos a orar. Desde logo, temos de perceber que seguir Jesus é também — e bastante — seguir a Sua oração. Não é possível seguir Jesus sem seguir a Sua oração. Não é possível seguir Jesus sem começar por ser orante. O seguimento de Jesus consiste, acima de tudo, na intimidade com Jesus. É pela oração que essa intimidade cresce.

 

B. A intimidade com Jesus é intimidade com o Pai

 

3. Na Sua instrução, Jesus começa por nos ensinar a tratar a Deus por Pai: «Quando orardes, dizei: “Pai”» (Lc 11, 2). Isto significa que, ao entrar na intimidade com Jesus, entramos igualmente na Sua intimidade com o Pai. É a oração que nos desperta para a realidade do Baptismo. Na oração, (re)tomamos consciência de que somos filhos do mesmo Pai e, por extensão, de que somos irmãos uns dos outros.

A oração é, pois, um precioso estímulo para reforçar a consciência da fraternidade. Orar cria um ambiente de intimidade que, no entanto, vai muito além do mero intimismo. Ao tratar Deus por Pai, cada um de nós apercebe-se de que são muitos os que fazem o mesmo. Somos todos irmãos porque somos todos filhos. Porque nos ama, é o Pai que nos irmana. É o Pai que faz de nós um povo de filhos, um povo de irmãos.

 

  1. Por aqui se vê que os problemas da nossa humanidade radicam na falta de uma consciência de que somos filhos do mesmo Pai. A nossa crise é sobretudo espiritual. Se houver mais oração, haverá mais abertura. Se nos abrirmos ao mesmo Pai, abrir-nos-emos aos nossos irmãos, também eles filhos deste mesmo Pai.

Entremos, então, na Escola Orante de Jesus. Oremos não só a Jesus, mas disponhamo-nos a orar com Jesus e em Jesus. No fundo, deixemos que Jesus — e o Seu Espírito — orem em nós.

 

C. A escola de oração é (sempre) uma escola de fraternidade

 

5. Deste modo, tratar Deus por Pai implica sair do individualismo que nos aliena, esmaga e esgana. Tratar Deus por Pai significa superar as divisões e destruir as barreiras que nos impedem de amar e de sermos solidários.

No fundo, Jesus convida-nos a assumirmos, na nossa relação com Deus, a atitude de uma criança que, com simplicidade, se entrega confiadamente nas mãos do pai. Jesus desafia-nos a acolher a proposta de intimidade que a relação entre pai e filho implica. E, como corolário, Jesus propõe a cada um de nós que nos assumamos como irmãos formando uma verdadeira família, unida à volta do Pai.

 

  1. Notamos, entretanto, que a oração também tem um tema. Na perspectiva de Jesus, a oração deve, sobretudo, centrar-se na vinda do Reino, ou seja, no nascimento do mundo novo que Deus quer oferecer. A «santificação do nome» expressa o desejo de que Deus seja reconhecido como salvador de todos os povos.

É importante que todos os homens reconheçam a justiça e a bondade do projecto de Deus para o mundo. A referência à «vinda do Reino» exprime o desejo de que este mundo novo se torne uma realidade definitivamente presente na vida dos homens.

 

D. O orante tem de ser persistente, mesmo que pareça inoportuno

 

7. O pedido do «pão de cada dia» verbaliza o desejo de que Deus não cesse de nos alimentar com a Sua vida. Este alimento surge na forma do pão material e na forma do pão espiritual. No fundo, com este pedido formalizamos o reconhecimento de que tudo se deve a Deus, de que tudo é dom de Deus.

A referência ao «perdão dos pecados» pede que a misericórdia de Deus supere a nossa infidelidade tornando-nos mais compreensivos para com as falhas dos nossos irmãos. O pedido para que não caiamos em «tentação» é um alerta para que, com a ajuda de Deus, não nos deixemos seduzir pelas felicidades ilusórias. E, hoje em dia, somos tão facilmente seduzidos pelo assédio das ilusões.

 

  1. Seguem-se duas parábolas, cheias de significado. A primeira (cf. Lc 11, 5-8) compara o orante a um «amigo inoportuno», que, mesmo a desoras, pede o que precisa. O que Jesus pretende dizer é que Deus escuta e atende aqueles que se Lhe dirigem. Ninguém fica sem resposta. Na oração, o importante é persistir, nunca desistir e sempre confiar.

A segunda parábola (cf. Lc 11, 9-13) constitui precisamente um convite à confiança em Deus: Ele conhece-nos bem e sabe do que necessitamos. Em todos os momentos, Ele derramará sobre nós o Espírito, que nos permitirá encarar a vida com a força de Deus.

 

E. A vontade de Deus pode não ser fácil, mas é a melhor

 

9. Façamos, por isso, como Jesus diz. Peçamos, procuremos e batamos à porta (cf. Lc 11, 9). «Todo aquele que pede recebe, quem procura encontra e ao que bate à porta abrir-se-á» (Lc 11, 10). Podemos não receber imediatamente o que pedimos, mas receberemos sempre o que é melhor para nós: o Espírito Santo (cf. Lc 11, 13). Afinal, orar é também criar uma disponibilidade para acolher o que Deus nos quer oferecer.

Não é mal pedir. Jesus também pediu. Mas o que importa, como Jesus nos mostra, é acolher a vontade de Deus. Jesus também pediu ao Pai para que O afastasse da Cruz. No entanto, ressalvou logo que se fizesse não o que Ele queria, mas o que o Pai pretendia (cf. Lc 22, 42). Uma coisa é certa: a vontade de Deus nem sempre é fácil para cada um, mas é sempre o melhor para todos.

 

  1. A oração insere-nos na vida nova, aberta pelo Baptismo. Somos outros a partir do Baptismo. Já não somos nós; é Cristo em nós: a nossa vida passa a ser uma «cristovida». O Baptismo, como anota São Paulo, sepulta-nos com Cristo e faz-nos ressuscitar com Cristo (cf. Col 2, 12). Assim sendo, até a nossa oração deve ser a oração de Cristo.

Esta oração já está, de certo modo, prefigurada no episódio narrado na Primeira Leitura. O mundo actual, aos olhos de muitos, assemelha-se a Sodoma e a Gomorra. Parece que está tudo perdido. É preciso fazer como Abraão. É preciso persistir. Persistir na oração é, no fundo, persistir na esperança. As pessoas justas podem estar em minoria, mas essa minoria pode mudar o mundo. Não tenhamos medo de estar em minoria. Deus consegue mais que todas as maiorias. Ele só quer as nossas mãos, os nossos pés, os nossos lábios e o nosso coração. Afinal, Deus quer o nosso pouco para fazer muito. Connosco, Ele quer tornar diferente a vida de toda a gente!

publicado por Theosfera às 06:18

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