1. A fé é, prioritariamente, de ordem pessoal e, consequencialmente, de ordem doutrinal.
Isto significa que «cremos em» e, por causa disso, «cremos que».
2. É a credibilidade da pessoa que sustenta a credentidade das suas afirmações.
No fundo, somos crentes em quem se mostra credível.
3. Na sua raiz, a fé remete-nos não tanto para algo, mas para alguém.
Quando professamos a fé, começamos por dizer que «cremos em Deus Pai, em Cristo e no Espírito Santo».
4. É por causa da pessoa que aderimos à mensagem.
É por causa da fé em Deus que aderimos à doutrina acerca de Deus.
5. É na sequência da profissão da nossa fé em Deus que «cremos que Deus é o criador do céu e da terra, que Jesus Cristo nasceu da Virgem Maria, que padeceu sob Pôncio Pilatos, que o Espírito Santo é Senhor e dá a vida».
Isto significa que não se crê em Deus por causa da doutrina; crê-se na doutrina por causa de Deus.
6. Há, porém, quem estabeleça fracturas e opte por uma noção unilateral da fé.
Há quem se limite à fé enquanto confiança, excluindo toda e qualquer doutrina. Esta atitude acentua mais a relação humana com Deus do que a iniciativa de Deus.
7. Mas também não falta quem, no extremo oposto, se fique por uma fé puramente doutrinal sem cultivar a experiência de Deus.
Esta seria uma fé fria, despersonalizada, rotineira.
8. As duas dimensões são essenciais para a fé cristã: a dimensão pessoal e a dimensão doutrinal.
A fé cristã, como sublinha Franco Ardusso, «é, ao mesmo tempo, um crer no Deus de Jesus Cristo e um crer que Deus Se manifesta e Se dá aos homens como salvador em Cristo».
9. Privada de uma destas dimensões, a fé desvirtua-se e perde a sua identidade.
A fé, que nos é transmitida na doutrina, chega-nos através de uma experiência pessoal. Segundo Heinrich Fries, «todo o “creio que” assenta num “creio em Ti”».
10. É por isso que São Tomás defende que «o principal, em todo o acto de fé, é a pessoa, a cujas palavras se outorga a própria adesão».
Enfim, só conhece alguma coisa sobre Deus quem está habituado a viver em Deus!