- No tempo da velocidade, até o mais breve minuto parece uma eternidade.
Em pressa — e sob pressão — constante, esperar um segundo soa a martírio exasperante.
- Definitivamente, a vida tornou-se uma correria. De um lado para o outro, de um instante para o instante seguinte, dá a impressão de que nunca temos pousio.
Como repousar se nem nas férias conseguimos parar?
- Acontece que não corremos só por fora. Até por dentro nos sentimos em correria acelerada e em desgaste contínuo.
Será que a nossa acção passará de mera agitação?
- A experiência ensina que, mais do que activos, sentimo-nos agitados. Mas também interiormente paralisados.
Como notou D. António Ferreira Gomes, somos dominados por uma «agitação paralisante» e por uma «paralisia agitante».
- Estamos «on» nas plataformas digitais, mas continuamos «off» no plano relacional.
Conectados com quem está longe, parecemos desligados de quem vive perto. Informados sobre quase todos, será que chegamos a conhecer verdadeiramente alguém?
- O Papa Francisco apercebeu-se de um paradoxo.
Por um lado, o homem exige o mais rápido: «internet rápida, viaturas rápidas, aviões rápidos, relatórios rápidos». Mas, por outro lado, sente necessidade de alguma lentidão. Contudo, quem está disposto a satisfazer esta aspiração?
- Muitas vezes, a própria Igreja reproduz a rapidez que nos cerca.
Será que ela é capaz de oferecer também alguma lentidão que tantos procuram?
- Será que «a Igreja ainda sabe ser lenta: no tempo para ouvir, na paciência para recomeçar e reconstruir? Ou não será que a própria Igreja já se deixa arrastar pelo frenesim da eficiência?»
Não raramente, andamos a prometer o alto, o forte e o rápido (incluindo conversões rápidas e curas rápidas).
- Haverá, porém, algo mais alto que o amor revelado no «abaixamento da Cruz»? Haverá algo mais forte que «a força escondida na fragilidade do amor»?
Por tal motivo, não precisaremos de reaprender o valor — e a beleza — de uma certa lentidão?
- Uma certa lentidão ajudar-nos-á a sair ao encontro de quem já saiu. E dar-nos-á ambiente para «entrar na noite» das pessoas que caminham «sem meta, sozinhas, com o seu próprio desencanto».
Estaremos dispostos a constituir uma «Igreja capaz de aquecer o coração» como Jesus aqueceu o coração dos discípulos de Emaús (cf. Lc 24, 32)?