- Fugir é abandonar e o Padre Benjamim não abandonou: nem o seu lugar de residência nem a sua condição de padre.
Daí que «Senhor Bispo, o pároco fugiu» seja um título que não se adequa totalmente à ficção. Nem tão-pouco à realidade.
- Os padres têm as suas dificuldades. Muitos se apressam a apontá-las. Quem, porém, os ajuda a vencê-las?
Que apoios damos, hoje, aos padres? Quem se dispõe a estender-lhes a mão em vez de lhes apontar o dedo?
- O padre está vestido de Cristo. Mas nem por isso fica despido da sua humanidade.
Que cuidados nos merece a humanidade dos padres? Não espanta que muitos se confessem «redline», nos limites da saturação. Nem que alguns cedam à «síndrome de burnout», o chamado «desgaste profissional».
- Muitos padres não se sentem integrados no mundo por causa do seu compromisso com a Igreja.
E nem sempre se sentem acolhidos na Igreja por causa dos seus compromissos no mundo e das suas opções dentro da própria Igreja. Em qualquer lugar, parece que não têm lugar.
- O Padre Benjamim está plenamente identificado com o seu trabalho. O que o penaliza é a onda de incompreensão por ser fiel à sua missão.
Até o censuram (e denunciam) pela sua seriedade na Catequese, pelo seu aprumo na Liturgia e pela sua insistência na Confissão.
- O seu problema não é não fazer o que quer, mas ver-se impedido de fazer o que deve.
Resolve, então, desaparecer. Muitos pensaram que ele tinha fugido e especularam logo com quem.
- Rapidamente transformaram conjecturas em certezas e converteram suspeitas em acusações.
Só que o Padre Benjamim não fugiu. Recolheu-se no jardim da Casa Paroquial, onde improvisou um pequeno ermitério.
- Isto mostra, por um lado, que nem em casa se sentia em casa. Mas insinua, por outro lado, que, apesar de não se sentir em casa, aquela continuava a ser a sua casa.
Por isso, desapareceu «na» paróquia, mas não fugiu «da» paróquia.
- Deixaram de o ver, mas muitos começaram a ouvi-lo. Foi quando o ouviram rezar que tudo acabou por mudar.
Decidiram resgatá-lo do seu retiro. Sucede que, durante as operações de resgate, ficou paralisado nas pernas. O seu destino (com pouco mais de 50 anos) era o lar dos padres idosos.
- Ali estava quando o telefone tocou. Vinham comunicar-lhe que o Papa queria nomeá-lo Bispo. No fundo, ele estava em condições únicas para compreender aqueles que se sentiam incompreendidos.
E foi assim que um pastor que não podia andar se viu escolhido para ajudar (tantos) outros a caminhar!