Escreveu avisadamente alguém que em todo o acto de entrega há um acto de posse e que, reciprocamente, em todo o acto de posse há um acto de entrega.
É o que sucede com o Senhor Deus. Ao dizer ao povo que Lhe pertence, o que no fundo lhe está a recordar é que Se entrega incessantemente por ele e a ele.
Toda a posse suscita relação de dependência e desencadeia relações desequilibradas, fazendo de iguais superiores e inferiores.
Toda a posse é de facto assim, menos a posse por Deus. Toda a dependência é assim, excepto a dependência de Deus.
Porque ser possuído por Deus não escraviza, liberta. Porque a dependência de Deus não diminui, eleva.
E se a vida nos ensina que, de um modo ou de outro, acabamos por ser sempre de alguém, porque não fazer de Deus o nosso — e o único — Senhor?