O ponto de partida de Zubiri reside não no ser mas mais além do ser. Ora, mais além do ser está a realidade, noção que alicerça e vertebra toda a sua trajectória metafísica e toda a sua construção teologal. Assente este ponto de partida, o decisivo nem sequer é a ideia que o homem possa fazer da realidade, mas a impressão da realidade no próprio homem.
Dado que «estar na realidade consiste em viver» e uma vez que «estamos na realidade na medida em que somos uma essência aberta», percebe-se que a instalação da realidade no homem desencadeie imperativamente a busca do seu fundamento último, que Zubiri denomina deidade e que, na prática, coincide com o que designamos por Deus. É assim que o homem e Deus são dois problemas afins, pelo que hão-de ser encarados e formulados não de forma adversativa, mas integradora.
A questão de Deus acaba por não ser menos antropológica que a questão do homem e, como nos adverte Hannah Arendt, a questão do homem acaba por não ser menos teológica que a questão de Deus. Daí que — sublinha Adolphe Gesché — apenas seja viável pensar Deus e o homem como intersignificantes.
Isto significa que Deus só é pensável com o homem e que o homem nunca é pensável sem Deus.