Eu sei que esta vai ser uma noite difícil para tantos portugueses que trabalham ou já trabalharam.
Afinal, ainda não vai ser no próximo ano que os sacrifícios vão ser suavizados. Pelo contrário, vão ser fortemente agravados.
E, por este andar, não custa muito imaginar que, daqui a um ano, não faltarão justificações para prosseguir a austeridade em 2013.
A questão que se levanta é: para quê?
Dir-se-á que é para não chegarmos à situação da Grécia. Portugal até pode ter melhor liquidez, mas é bom não esquecer que o salário mínimo na Grécia é quase o dobro do português.
É certo que o memorando da «troika» não deixa margem para alternativa. Mas não seria possível negociar uma moratória nos prazos?
Acontece que, com estas medidas, haverá cada vez menos pessoas em condições de contribuir. Se as empresas falirem e o desemprego aumentar, como se conseguirá descontar?
Entretanto, não se anuncia nenhuma medida para estimular o crescimento da economia.
Não sabemos para onde vamos. Sabemos que não é por aqui que chegaremos ao desenvolvimento e à justiça.
A «doença» era grave. Mas esta «terapia» arrisca-se a torná-la pouco menos que insuportável.
Não deixemos, entretanto, adormecer a esperança. Isto vai ser quase impossível. Mas há-de haver uma luz.
Os cidadãos precisam de mudar. Os dirigentes também. Falta, no país e na Europa, sensibilidade social.
A narrativa é demasiado colada à realidade. É fundamental um golpe de asa que ajude a transformá-la.
Não é com estas políticas que conseguiremos vencer a crise. Será com estes políticos?
Urge uma nova criatividade, uma outra sabedoria. Que venha do coração. E olhe para as pessoas não como activos, mas como seres humanos.
Um novo humanismo tem de pairar na nossa vida cívica.