Em Maria, a Igreja encontra um tópico de especial relevância para o enquadramento das suas relações com Deus e com o mundo.
Maria não protagoniza uma vida que se anula, mas uma vida que se eleva. Ao enviado de Deus, Ela não diz que abdica de Si; Ela diz que integra em Si a vontade do Pai.
«Faça-se em Mim segundo a Tua Palavra»(Lc 1, 38) não é uma capitulação; é uma opção.
Maria encontra-Se conSigo quando acolhe a proposta do Pai. Ela aceita apagar-Se para que a luz divina brilhe sobre todos.
Ela realiza-Se maximamente quando segue o Seu Filho. Por isso, apela a que O escutem: «Fazei o que Ele vos disser»(Jo 2, 5).
A Igreja, prolepticamente idealizada no seio de Maria, adquire esta identidade e assume este perfil: aceitar apagar-se para que resplandeça a luz trazida por Jesus.
Tal como Maria, a Igreja atinge o ápice da sua realização quando não se fala dela. Nunca é ela própria como quando se apaga a ela mesma.
João Baptista, que pertencia à família de sangue de Jesus e Maria, incorporou também igual prioridade: «Ele [Jesus] deve crescer e eu diminuir»(Jo 3, 30).
É por isso que, como bem sublinhou Emmanuel Levinas, «mais alta que a grandeza é a humildade». É ela, e não a imponência egocêntrica, que nos aproxima da verdade e nos conduz para a autenticidade.
Deste modo, quando a preocupação com a instituição é residual, então é porque se percebeu o fundamental e se acedeu ao prioritário.
Maria iconiza um modelo de Igreja em que, voluntariamente, se dá a Deus o único lugar que merece: o lugar central.
Uma Igreja de rosto mariano sabe que não tem vida própria. A bem dizer, a Igreja não vive; é Cristo que vive nela (cf. Gál 2, 20).