Desde sempre gostei de música. Mas desde cedo percebi que iria limitar-me a ser um modesto ouvinte.
Dizem que o estudante faz-se e o músico nasce. E eu não nasci para a música.
Na música, sempre priorizei a mensagem, a intervenção, a melodia, a paz.
A música que se fazia quando cresci continua a tocar-me. Falava de manhãs que não envelhecem, embora estejam a ser devoradas pelo pragmatismo e pela injustiça.
Foi relativamente tarde que descobri Bach. Mas quando a ele cheguei, não mais dele consegui sair.
Não é tanto pela sumptuosidade barroca. É sobretudo pela harmonia e pela transparência.
Então as Paixões (de S. Mateus e de S, João) cativam-me completamente.
Ainda hoje, continuo a arrepiar-me quando as oiço. Bem mereceu, pois, o título de «quinto evangelista».
Confesso que, às vezes, faço umas deambulações e revisito músicas que eram entoadas na minha infância e juventude. Mas rapidamente me canso e depressa volto a Bach.
Pelo que dizem, é o que acontece a quantos admiram Bach. Volta-se sempre a Bach. Nunca satura. Há algo de divino naquilo tudo.
É indescritível. É sublime. É Bach!