Andamos uma vida inteira à procura de nós mesmos.
Tarefa prioritária, jamais, por nós próprios, a levamos à plenitude.
Na verdade, quem pode dizer que se conhece?
Quem pode assegurar que nunca se surpreendeu perante uma afirmação proferida, uma decisão tomada ou uma acção cometida?
Somos — todos temos consciência disso — uma surpresa para nós próprios.
Esta convicção degenera, por vezes, em desânimo e desespero.
A história do pensamento é a história desta procura insana e desta insatisfação permanente.
É, entretanto, neste contexto que Deus intervém.
A Sua auto-revelação acaba por ser também a revelação do que nós somos.
Pois, para nos falar, Ele próprio desceu à nossa humanidade.
Tornando-Se homem (Jo 1, 14), mostrou-nos que o humano é capaz de acolher o divino.
«O homem é, por isso, — como escreveu Edward Schillebeeckx — a palavra de que Deus Se serve para escrever a Sua história».
Mas há, entretanto, uma outra face desta situação, que importa realçar com toda a força.
É que o humano só atinge a sua máxima expressão quando é assumido por Deus.
É Deus, ao fazer-Se homem em Jesus Cristo, quem nos revela quem nós somos (cf.Gaudium et Spes 22).
Isto significa que é também quando nos abrimos à relação com Deus que encontramos, em toda a plenitude, o sentido da existência.
Por conseguinte, quanto mais em Deus, mais em nós mesmos. Isto é, mais felizes, mais libertos, mais verdadeiros.
Que as nuvens nos façam chover, pois, o Justo.
Ou então como (mais próximo de nós) afirmava Miguel de Unamuno:«Quando Deus quiser chover na tua vida…deixa chover».