Hoje não seria possível. Qualquer acto é publicitado como se do maior feito se tratasse. Em tempos de ditadura da banalidade, o silêncio e a discrição devem ser tido como sintomas de qualidade.
Parece que Júlio Dinis só escrevia de noite. Nem os que viviam com ele se apercebiam da sua actividade.
João de Araújo Correia achava, há quase quarenta anos, que o silêncio e a discrição se perderam para sempre. «É inútil prometer alvíssaras, que ninguém encontra esses objectos».
O mundo transformou-se numa aldeia em que nem o mais solitário dos seus habitantes consegue passar despercebido.
Dir-se-ia que o próprio solitário será quem mais espevita a curiosidade alheia.
Já nem será possível a liberdade de estar só?