Ter é o verbo que mais conjugamos: uns no passado e no presente, outros, os pobres, apenas no futuro: num futuro que se tornará (é o mais certo) irrealizável.
Da Igreja, porém, esperamos que não tenha. E que não se preocupe em ter.
Uma Igreja despojada será, apenas ela, uma Igreja necessária. E apelativa.
É dessa Igreja que nos fala D. Pedro Casaldáliga, um homem incompreendido, uma voz do amanhã à espera que tenha eco numa manhã. Quando chegará? Alguma vez teremos uma Igreja assim?
Eis o perfil de Igreja desenhado (sonhado?) por este grande bispo:
Não ter nada.
Não levar nada.
Não poder nada.
Não pedir nada.
E, de passagem,
não matar nada;
não calar nada.
Somente o Evangelho, como uma faca afiada.
E o pranto e o riso no olhar.
E a mão estendida e apertada.
E a vida, a cavalo, dada.
E este sol e estes rios e esta terra comprada,
como testemunhas da Revolução já estalada.
E mais nada!