Importante, dizia Zubiri, não é possuir a verdade, mas deixar-se possuir pela verdade.
Quem está em condições de possuir a verdade? A verdade que dizemos possuir não passa de um conjunto de palavras que a procuram indicar.
No fundo, é sobre palavras que discutimos. É por causa de palavras que combatemos. É por causa de palavras que condenamos. E matamos.
As guerras começam por palavras, pelas palavras de uma declaração de guerra.
As palavras são um esforço de aproximação da verdade, mas alguém pode garantir que elas esgotam a verdade?
A verdade está sempre além das palavras que a pretendem descrever.
Há uma certa transcendência da verdade que as palavras procuram imanentizar, mas nunca conseguem presencializar completamente.
Não diria que há uma incompatibilidade total entre a verdade e as palavras. Mas não há dúvida de que há uma distância que nunca é inteiramente percorrida.
Há que ser cauteloso e humilde no uso das palavras e procurar outros recursos de aproximação à verdade.
A verdade está mais no silêncio do que na palavra.
O silêncio pode erguer os seus muros, mas as palavras opõem também as suas barreiras.
O silêncio pode esconder muita coisa, mas as palavras também não revelam tudo.
A verdade mora, algures, no silêncio. Não sabemos exactamente onde.
No silêncio abraçamos melhor a verdade que, também ela, habita no silêncio.
As palavras tentam captá-la e procuram transmiti-la. Mas dificilmente conseguem expressá-la.
Pelas palavras podemos procurá-la. Mas só no silêncio a conseguiremos encontrar.
Mesmo quando encontramos a verdade, nunca encontramos a palavra exacta para a dizer.
Jamais ultrapassaremos a inopia vocabulorum (miséria das palavras). Uma permanente gaguez acompanhar-nos-á. Até ao mergulho eterno no silêncio clarificador.