O colectivo é um ambiente, uma oportunidade. Muitas vezes, surge como um problema. O que nunca pode ser é um freio.
O colectivo não pode ser visto como uma adição de membros. O colectivo não pode dispensar cada um dos seus elementos.
Ser pessoa significa estar aberto, mas a vontade colectiva nunca pode ser imposta.
O não-humano encontra-se não apenas em indivíduos que não se socializam (o caso de Anders Breivik é o mais recente), mas também em colectivos que não integram. Aqui, os exemplos são múltiplos.
Criticamos, por hábito, aqueles que, supostamente, não se abrem. Mas não cuidamos de questionar os colectivos que não integram. E que, pior, estigmatizam, marginalizam e perseguem.
Por um imperativo de sobrevivência, a alternativa é, muitas vezes, a solidão, o desterro. Ainda assim, acoimamos de trogloditas quem apenas deseja não deixar de ser quem é.
Ernst Junger deu conta de um paradoxo. A solidão é «uma característica particularmente notável em épocas nas quais o culto da sociedade floresce». E que «o colectivo apareça como o não-humano, essa é uma das experiências a que poucos são poupados».
Nem sempre a solidão é uma fuga ou uma oposição. Muitas vezes, é apenas a recusa da opressão. A cultura dominante não costuma tolerar alternativas. Quando não persegue, pressiona.
Ser vencido não significa submeter-se eternamente à vontade do vencedor.
A solidão pode ser, pois, um grito pela liberdade. É que, volto a Junger, «uma história autêntica só pode ser feita por homens livres», por pessoas que não se resignam.
A solidão pode configurar uma recusa decidida da desumanidade que, muitas vezes, o colectivo impõe.