A partir de certa altura, impressiona mais a morte dos outros do que a nossa própria morte.
A morte dos outros perturba-nos. A nossa própria morte pacifica-nos.
Vamo-nos habituando a essa inevitabilidade e vamos até contando as vezes que lhe conseguimos escapar. Bem vistas as coisas, levamos muito tempo a morrer. Só que (como asseverava Eugene Ionescu), consegue-se.
Montaigne dizia que a filosofia é aprender a morrer e Zubiri entendia que viver é existir constitutivamente frente à morte.
Descodificando, do que se trata, nestas frases, é de um apelo a reaprender a viver. A nossa peregrinação pelo tempo não é interminável. Importa não adiar o essencial. E é fundamental não desperdiçar energias. Ninguém fica aqui para sempre. O que fica, quando já não estivermos, é o rasto do que fomos.
No fundo, trata-se de um horizonte que temos à nossa frente. Não sabemos a sua duração. O importante é que a morte nos encontre envolvidos na prática do bem.
A certeza da morte dá um acréscimo de premência à questão do sentido. Andamos aqui para quê? Só o bem depõe a nosso favor.
Quanto ao momento da morte, não vale a pena preocuparmo-nos muito. Apesar de estarmos seguros da sua vinda, nenhum de nós fará a experiência da sua morte.
Era, aliás, por este meridiano que alinhava o conselho de Epicuro. Dizia, mais ou menos, isto em relação à morte: quando nós estamos, ela ainda não está; quando ela estiver, nós já não estamos.